Dois filmes sobre famílias às voltas com um filho viciado em drogas embalam os cinemas nessa temporada: “Querido Menino”, longa-metragem de Felix van Groeningen, e “O Retorno de Ben”, escrito e dirigido por Peter Hedges.
Em “Querido Menino” é o pai – na pele do ator Steve Carell – que faz tudo para salvar seu ‘menino’; em “O Retorno de Ben”, Julia Roberts é a mãe que encara esse desafio.
“Querido Menino” é baseado numa história real – nos créditos, a gente fica sabendo o que aconteceu com o jovem Nic (não vou contar). “O Retorno de Ben” é uma ficção.
Em ambos, o telespectador acompanha a construção do personagem central, seus progenitores e a trajetória da criança feliz ao dependente químico, como num quebra cabeças, por meio de narrativas em fragmentos desordenados, naquele conhecido vai e vem do tempo – a temporalidade não linear -, e informações fragmentadas.
“Querido Menino” peca um pouco nesse embaralhamento, enquanto em ¨O Retorno de Ben” esse processo atemporal é mais suave – o vai-vem tem cenas mais curtas e menos detalhes fracionados.
O que os distingue de outros sobre o tema, é a ausência do tom moralista. As histórias são contadas como são, num espelho da vida real, sem clichês abismais que costumam destroçar os personagens por completo.
Nesse contexto, ganha destaque a abordagem do prazer proporcionado pelas drogas, fundamental para entender a experiência – nenhum dos dois filmes tenta minimizar essa realidade, nem anular os efeitos jubilosos que a dependência, ainda que sempre destrutiva, provoca.
Sem sermões – que costumam ser sem efeito -, os longas discutem a fundo o papel dos pais na vida dos filhos e a isenção de culpa no percurso e escolhas dos rebentos.
Julia Roberts criou Holly, uma mãe impressionante, que oscila entre a neurose e a sensibilidade. Steve Carell, David, é um pai amoroso que se esforça de forma ímpar para compreender a engrenagem lógica da dependência do filho, ao mesmo tempo que experimenta todo tipo de emoções conflitantes – que vão do compreensível desejo de abandonar a empreitada ao destemido enfrentamento sem trégua.
Outro fator interessante é o movimento dos demais integrantes da família – os irmãos, madrasta e padrasto. Com um olhar um pouco mais distante, eles representam a consciência da família, aqueles que conseguem analisar os fatos com imparcialidade e mais clareza, e o porto mais seguro para os dependentes – especialmente em “Querido Menino”, em que os irmãos são pequenos e ainda inocentes em relação ao drama do irmão mais velho.
Os dois filmes englobam o amor incondicional da maternidade/paternidade, esse elo que une pais e mães a suas “eternas crianças”, que os torna quase prisioneiros de uma forma intrínseca de afeto que prima proteger, resistir, insistir, encarar qualquer revés em pró de suas crias. Um sentimento único, compreensível só pra quem tem filhos.
Assista aos trailers e veja os filmes. Valem a pena.
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