Observador amoroso dos cinco filhos já adultos, ele os espreita com o olhar complacente da paternidade, intimamente reconhecendo cada um como efetivamente é. Empenhado em exaltar as virtudes, faz de conta que não vê o egoísmo, a mesquinhez, a indiferença, o descuido nas palavras. Também ignora a ausência, o descaso, as insinuações e cobranças pelos erros cometidos: ele já se perdoou e agora, mais perto da redenção do que das repetidas explicações, releva as indiretas, as diretas, e até mesmo os silêncios – silenciando ele próprio sob pena de, qualquer dia desses, encará-los com franqueza e despejar as mágoas que, por causa da culpa, decide calar. Entretanto, às vezes se entristece porque sabe que a conta chega para todos e remorso é penitência que nunca finda. E quando olha para tudo, até sente gratidão e se vê desejando que os netos sejam para os filhos o que esses são para ele. Mas se pensa com clareza sobre isso, fica em dúvida se tal querer é uma benção ou maldição.
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