HIPERBREVES

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Observador amoroso dos cinco filhos já adultos, ele os espreita com o olhar complacente da paternidade, intimamente reconhecendo cada um como efetivamente é. Empenhado em exaltar as virtudes, faz de conta que não vê o egoísmo, a mesquinhez, a indiferença, o descuido nas palavras. Também ignora a ausência, o descaso, as insinuações e cobranças pelos erros cometidos: ele já se perdoou e agora, mais perto da redenção do que das repetidas explicações, releva as indiretas, as diretas, e até mesmo os silêncios – silenciando ele próprio sob pena de, qualquer dia desses, encará-los com franqueza e despejar as mágoas que, por causa da culpa, decide calar. Entretanto, às vezes se entristece porque sabe que a conta chega para todos e remorso é penitência que nunca finda. E quando olha para tudo, até sente gratidão e se vê desejando que os netos sejam para os filhos o que esses são para ele. Mas se pensa com clareza sobre isso, fica em dúvida se tal querer é uma benção ou maldição.

 

Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.