FALAS CONTADAS REFLEXÃ0

OS DIAS ERAM ASSIM – RETA FINAL

Já na metade, os próximos capítulos da ‘supersérie’ começam a desamarrar as teias de mentiras que pontuaram a trama, trazendo provavelmente hoje uma das cenas mais esperadas: o reencontro de Renato (Renato Góes) e Alice (Sophie Charlotte).

Mas muito além disso, o drama nos faz refletir, com um núcleo relativamente pequeno, sobre como a Ditadura arrebentou um sem número de vidas, estraçalhando destinos, rompendo amores, separando pessoas – pais, filhos, netos, amigos, casais -, a um preço altíssimo.

Já li por aí críticas que dizem achar que se mostrou muito pouco da Ditadura propriamente dita, que a subversão foi minimizada – até glamourizada -, e que se carregou muita tinta nos romances. Obviamente, nem todos os militares eram sanguinários, assim como nem todos os chamados subversivos eram inocentes. Mas, pessoalmente, acho que a proposta era mostrar os estragos num âmbito mais amplo no nível humano – e aqui falo dos traumas psicológicos, das pessoas que se perderam, desapareceram, das que tiveram suas vidas arrancadas de si. Escrevo, portanto, com base nessa minha visão.

Há uma frase no filme “Os Gângsters” que avisa que “O passado sempre volta para acertar suas contas.” Em “Os Dias Eram Assim” estamos chegando nesse momento.

E a conta chega também para aqueles que não tiveram opção senão errar – caso, por exemplo, da personagem de Cássia Kiss, a D. Vera: para proteger os filhos, ela concordou em sustentar a farsa sobre a morte de Renato; com isso, foi privada, entre tantas outras coisas, de saber que tinha um neto.

Claro que não se pode responsabilizar as pessoas envolvidas pelas decisões tomadas num momento em que não se tem escolhas senão as apresentadas por quem dita as regras, e nem mesmo cobrar-lhes uma explicação: naqueles dias, fazia-se o possível para sobreviver e deixar vivo os entes amados – e, para tanto, não se podia pensar muito, menos ainda cogitar quebrar os acordos – e é nisso que mora a maior injustiça: que se tenha que amargar as consequências das faltas cometidas sem alternativa.

Naqueles dias, quando o Estado que deveria proteger seus cidadãos passou a acuá-los, nada que se fizesse em nome da vida era errado, afinal. Mas todos que viveram o regime de cerceamento tiveram que conviver com a sombra de suas opções, mesmo que, ante as circunstâncias, não tivessem como se arrepender.

Outro tema a ser abordado nessa reta final é a AIDS: naquela época, as informações sobre a doença eram truncadas e a minha geração viu muitas pessoas morrerem sem saber do que.

“Os Dias Eram Assim” possivelmente fechará um ciclo inteiro de nossa História nos dando uma boa dimensão de realidade sobre nossa sociedade que, mais do que nunca, precisa lembrar desses tempos para, quem sabe, novamente mudar os rumos do nosso País.

Ansiosa pelo que ainda vem por aí… Não deixe de ver – mesmo que você não tenha acompanhado desde o começo, ainda tem muita coisa pra acontecer…


Confira o videoclipe oficial – que ficou lindo! 

Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.