REFLEXÃ0

O QUE QUEREMOS PARA O NOSSO PAÍS?

Não sei se você esteve nas manifestações no último domingo, se votou a favor ou contra o Governo. De toda forma, é possível que você esteja insatisfeito/a com o momento atual, que seja contra a roubalheira (será que tem alguém a favor?), que tenha medo de sair às ruas com tanta insegurança, que pleiteie por melhorias na educação, na saúde e em vários segmentos sociais.

Eu acho que é preciso reclamar, que são válidas as inquietações, mas o que efetivamente a sociedade quer, é a pergunta que não consigo responder.

Manifestação na Paulista, em 16/08/2015

Manifestação na Paulista, em 16/08/2015

Ouvi dizer que as passeatas davam conta de, entre outras coisas, protestar contra a corrupção. Mas o que significa essa faixa? Há um lado onde ela é aceita? Há outras faixas solicitando intervenção militar, questionando porque a Presidente não foi morta em 64, e por aí vai. Não vale reproduzir.

Outra coisa que não consigo deixar de pensar sobre esses movimentos é a respeito da seriedade: se a gente olhar as fotos e vídeos de quando se clamava pelas Diretas Já ou pela saída do ex-presidente Collor, vê-se que impera outra conduta: as pessoas se juntavam de mãos dadas, braços dados, atentas aos discursos de lideranças coerentes. Não era um passeio dominical, nem uma ‘oportunidade’ de tirar selfie com o policial bonitão, menos ainda uma coreografia ensaiada pra animar os presentes.

E essa imagem abaixo de manifestantes agredindo verbalmente uma senhora idosa? A matéria do Portal Forum, relata que ela se defendeu calma e civilizadamente a xingamentos como “Putinha do Lula”, “Vagabunda”, “Deve ser filha de ladrão!” e “Filha da puta” (perdoem a reprodução de palavras tão sublimes), como manda o bom senso, a educação e muita coragem:  “Vocês precisam conhecer a nossa história. São formados pela televisão. Eu vivi a época da ditadura e vou morrer lutando contra ela”. Pois é… E se soubessem um pouco mais de história, não teriam, entre outras coisas, colocado o ex-presidente de volta ao Senado…

O relato do episódio viralizou nas redes sociais, mas o que me chama a atenção na foto é a atitude das pessoas ao redor dela: gente que se julga de bem, de várias idades, em postura absurdamente desrespeitosa, intimidadora, sarcástica, humilhante. Ninguém a defendeu.

Manifestação na Paulista, em 16/08/2015

Manifestação na Paulista, em 16/08/2015

A valentia dela é realmente excepcional – eu não teria tanto ‘peito’: recuo de discussões virtuais, nem posso me imaginar cercada numa avenida! Mas sinto a chamada ‘vergonha alheia’ pelas pessoas à sua volta – gente que está ali em defesa do País, marchando por um futuro melhor, gente de bem (repito), incapaz de um gesto de delicadeza e respeito ao próximo – que, ainda por cima, é idoso, condição que lhe garante ainda mais respeito da sociedade.

Conheço gente que estava na Paulista empunhando a cartilha do ‘por um País sem corrupção’, que não hesita em pagar despachante pra apagar suas multas do sistema, recebe na própria casa político corrupto, estaciona em vaga de idoso ou deficiente porque é ‘só um minutinho’,  faz ‘pequenas’ falcatruas no dia a dia. Porque quando a corrupção beneficia e não afeta tanto (!), aí pode.

O que ninguém parece considerar é que a corrupção nos escalões é a mesma – nas devidas proporções. E eu não tenho certeza se alguns desses que se manifestam e cometem esses ‘pequenos delitos’ não fariam a mesma coisa se estivessem no poder.

Mas, afinal, é esse o País que desejamos? Um País que, numa manifestação dita pacífica, não respeita as diferenças nem seus idosos? Que brada contra a corrupção, mas aceita um corrupto dependendo do lado? E a que lado se referem? Não é uma incoerência?

A chamada “Dama Vermelha” nos dá uma enorme lição de lucidez. E eu não sei se ela estava de vermelho por ser a favor do Governo: pela maneira como agiu, eu acredito que ela sabe dos problemas do País, mas defende a Democracia, independente de Partidos. Ela defende o País e a tão falada liberdade de expressão – que muitos ali parece que tentaram impedir.

Acho triste que nossa sociedade esteja cega de ódio e não consiga ter discernimento para separar posições políticas de civilidade. Que esqueça sua ‘moral e bons costumes’ e aja feito selvagem. Que amigos e familiares estejam se desrespeitando, rompendo relações ou transformando-as em convívios superficiais. Que não se consiga mais discutir tópicos sem ofensas pessoais.

E, afinal…

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Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.