Eu me lembro bem de um tempo em que não havia celular smartphone.
As conversas em sala de aula se davam em folhas arrancadas do caderno, e identificávamos quem falava pela letra e pela caneta.
O colégio em que eu estudava tinha período integral alguns dias na semana, e nós almoçávamos nos restaurantes próximos. Eu me lembro bem que conversávamos, ríamos, falávamos das aulas. Depois, eu ia com algumas amigas jogar xadrez com os universitários, ou ia para o clube de literatura, ou até mesmo para o laguinho em frente à escola para descansar do almoço.
Na volta para casa, todos juntos no ônibus; alguns dormiam, outros cantavam, outros conversavam, alguns estudavam. Interagíamos e sabíamos da vida do nosso colega mais qualitativamente. Participávamos. Nesse tempo, as fotos eram tiradas em máquinas fotográficas com filmes para serem revelados, e torcíamos para que as fotos saíssem boas. Revelávamos e guardávamos. Era um álbum de memórias.
Não existia o Tinder. Conhecíamos alguém na rua, pedíamos para um amigo em comum apresentar, saíamos várias vezes juntos até que algo acontecesse. “Fulano me disse que gosta de você”; “Eita, dá meu telefone pra ele!”. Eram horas no telefone, e ainda sobrava assunto pessoalmente. Comprávamos roupas sem pedir opinião das amigas, e o nosso “grupo de whatsapp” eram todos os amigos conversando, vendo filme na casa de alguém. Fazíamos festas, churrascos, ríamos, nos divertíamos, prestávamos atenção no outro.
Tenho saudade dessa humanidade que a gente perdeu.
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