Não sei se quem me lê sabe que tenho horror ao Presidente. Então, se você é simpatizante de Bolsonaro, melhor parar a leitura por aqui – até porque, essas pessoas me dão um tipo de asco que não consigo evitar (já me afastei de tanta gente…) e, considerando o momento, pra mim, não tem álcool gel capaz de limpar as mãos de quem digitou 17.
Nessa segunda semana, não posso deixar de lembrar da terça-feira passada, quando o Excelentíssimo fez seu pior pronunciamento, alargando a crise – que já não é/estava pequena. Essa criatura parece não ter respeito por nada nem ninguém – e isso, mais do que qualquer isolamento, me incomoda bastante.
*Nota: enquanto escrevo, ouço pela TV que hoje à noite ele fará novo pronunciamento. Quem aguenta? Panelaço, por favor!!!
* * *
Posto isto, posso ressaltar que os dias não tem sido tão difíceis quanto se poderia esperar. Pode ser uma questão de temperamento – sempre fui reclusa e nada ansiosa; pode ser uma conformação – não tem jeito, então vamos tornar tudo mais leve; ou ainda o fato de que a idade e a experiência nos dão uma visão mais ampla de tudo, e as coisas, por piores que pareçam, já não são mais nenhum bicho de sete cabeças.
Foi ontem que li a crônica de uma amiga poética que dizia que, um dia, quando a quarentena acabar, vamos ter saudades dela. Talvez faça algum sentido que, no futuro, como ela pensa, nos lembremos com certa nostalgia dos dias sem pressa, do silêncio, de um outro tipo de barulho, das tardes longas em que o sol demora a se por. Talvez, num dia cansativo, no meio do trânsito ou de muito trabalho, nos lembremos com algum tipo de melancolia do tédio no sofá enquanto não achávamos nada de interessante para ver nem na TV nem nos streamings, de todos os dias com cara de feriado em que ficávamos a maior parte do tempo de pijama – meio sem saber o que fazer, com o tempo desparametrado, uma desorganização generalizada de tudo.
Não sei… Não sei se será possível apagar esses dias de incerteza – ainda mais se, quando a pandemia acabar, o renovo despontar com igual ou mais caos. Sim, porque todo mundo sabe que nada será como antes. Mas a questão é que, mesmo tendo essa consciência desde já, ninguém sabe como será.
De toda forma, por aqui os dias tem sido de calmaria. Não temos tido dificuldade em organizar as compras – meu marido decidiu que, como a recomendação é uma pessoa só por família nas ruas, ele sai só uma vez por semana (acha que sou muito distraída e calma, enquanto ele é mais proativo – leia-se apressado e sem paciência) e faz tudo de uma vez: supermercado, hortifruti, farmácia.
Hoje saímos também para tomar a vacina anti-gripe – meu marido vai fazer 70, mas acabei sendo premiada com a dose: do baixo dos meus 52 (talvez por conviver com ele, que é do chamado grupo de risco) acharam melhor me imunizar também. Mas grupo de risco, aliás, é algo que vai ficando pra trás: com o surto em franca disseminação, já sabemos que todas as idades estão suscetíveis. Covid 19 é uma loteria que ninguém quer ganhar.
Entretanto, por aqui onde moro ainda há muita gente pelas ruas, despreocupada. Nós não descemos do carro – a vacina foi Drive Thru -, mas observei gente caminhando, tranquila, sem máscara nem proteção. Não sei se atendem ao chamado do Presidente – que propaga que a síndrome é só um resfriadinho/gripezinha -, ou apenas riem na cara do perigo, julgando-se super-heróis.
Como considero que os números passados pelos Governos – Federal, Estadual e Municipal – não são verdadeiros, penso que essas pessoas, que não estão levando à sério, terão um baque ainda maior quando as estatísticas reais forem despejadas sobre nós. Já se vê, em reportagens aéreas, de longe na TV, enterros em massa. Vai ser ainda mais traumático para quem está seguindo as recomendações de nosso Chefe de Estado…
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Observo que os dias vão ganhando uma dinâmica na qual vamos nos encaixando, como uma nova ordem. Como trabalhamos com internet, a vida profissional segue sem sobressalto e nem podemos dizer que houve grandes mudanças em nossa rotina – o Home Office é uma realidade antiga pra nós, que já administramos equipes de trabalho à distância. Alguém vai cancelar prestação de serviços? É possível. Mas, por enquanto, seguimos com todos os projetos em andamento e outros ainda chegando.
Não sei se daqui a seis meses vou ter algum tipo de banzo dos dias atuais – acho que não. O que me assombra mesmo são os números, as estatísticas, essa gente sem rosto nem nome que, todos os dias, aos milhares, tem sucumbido à doença nos quatro cantos do mundo.
O que me assombra é essa linha tênue entre a falsa calmaria e a desordem que está permeando o cotidiano. O que me inquieta é não saber como cada um vai lidar com tudo quando tudo acabar – ou começar de novo…
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