No contexto do momento, algumas editoras e livrarias tem encerrado suas atividades. Revistas e jornais também parecem estar com seus dias contados.
Para quem ler é um hábito natural, essas notícias são tristes: mesmo que a tecnologia nos proporcione um enorme leque de opções de leitura e que seja possível ler em celulares, tablets, na tela do computador ou laptop, nada substitui o lúdico prazer de ter um livro nas mãos.
Assim, a pergunta que muitos de nós está fazendo é: o livro de papel vai acabar? Esse é um questionamento de difícil resposta e não creio que alguém saiba efetivamente responder.
Mas como formar leitores que mantenham a engrenagem das editoras em produção?
Um primeiro passo é o exemplo familiar: pais que leem, possivelmente formarão filhos leitores. Mas filhos que não compartilham desse indicativo, também podem tomar gosto pela leitura – e, muitas vezes, inverter o processo, trazendo os pais ao hábito da leitura.
No âmbito escolar, é preciso inserir cada vez mais a literatura de entretenimento para dentro da sala de aula das primeiras séries escolares – pois é na primeira infância que o leitor se forma -, e trabalhar com o relato dessas leituras, debater a estrutura das narrativas, discutir seu apelo e sua recepção, partindo do que os alunos leem para construir um repertório em comum.
Depois disso, tomar espaço durante as aulas de português para a leitura de textos literários – que podem variar dos clássicos à nova literatura. Nesse primeiro momento, mais importante do que o bom conteúdo, é criar o gosto pela leitura e, ao contrário do que pensam muitos professores, ler em sala não significa “perda de tempo”. Diversas pesquisas indicam que a prática da leitura — tanto em grupo, em voz alta, como a silenciosa e solitária — incentivam a formação de jovens leitores. Quando professor e alunos planejam e preparam a leitura de um livro, desvendando um texto, sua estrutura e temática, uma interpretação coletiva é construída e uma comunidade de leitores pode surgir – e essas comunidades são a base para o alargamento dos horizontes de seus integrantes. Talvez então Machado de Assis e José de Alencar possam deixar de ser “chatos e difíceis de ler”.
Ao pensar sobre o ensino como uma prática da leitura literária, poderemos garantir às crianças uma porta de entrada para a leitura de textos mais complexos – e para essa nossa grande herança: o universo potente da cultura escrita.
Isso é o que salvará o livro no formato que temos hoje: a formação de uma nova geração de leitores construída solidamente desde os primórdios da infância.
Fonte: Revista Galileu
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