HIPERBREVES

Sempre ouvia, quase em tom de ameaça, que um dia, quando estivesse em perigo ou à beira da morte, ia clamar por ajuda e salvação. E ela, que desde a adolescência havia perdido o elo com qualquer crença, sempre se espantou com aqueles que rezavam para o Futebol, para um ente querido em fase terminal, para o filho acidentado, pela busca por um emprego, até para encontrar ou conservar um amor – que fosse bom e eterno, obviamente. Observava sem compreender o que esperavam que lhes viesse dos céus aqueles que se ajoelhavam em contrição e promessas, em dedicação quase absurda ao que, desde que o raciocínio lhe caíra, ela entendeu tão sem sentido. E foi naquela madrugada, quando acordou com o peito com uma dor lancinante, enjoada e sem poder respirar, que, despedindo-se da vida, se deu conta de que sua falta de fé era ainda mais profunda do que imaginava…

 

Débora Böttcher
Últimos posts por Débora Böttcher (exibir todos)

Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.