Decidiu que ia fumar aos catorze anos, quando teve arroubos de se auto-afirmar para pais repressores – e como, naqueles tempos, o cigarro era a moda da vez, sentia-se poderosa, independente e cheia de graça com sua cigarrilha importada. Na Faculdade, ao começar a namorar aquele que seria seu marido, passou a fumar menos – ele tinha rinite e a fumaça o incomodava -, mas nunca cogitou parar – nem mesmo quando engravidou e a amiga de infância, ainda jovem, padeceu da doença terminal. Aos quarenta e cinco anos e dois filhos adolescentes, olha para o passado com angústia e enxerga as brechas do futuro com temor. Depois do derrame pleural, dez dias expelindo sangue e a dor lancinante nas costas, anda com um balão de oxigênio a tiracolo. E enquanto o ar lhe falta, pensa que poder, charme e independência agora soam apenas palavras enfumaçadas de um dicionário melancólico.
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