Desde sempre penso sobre envelhecer – um fato, antes de qualquer coisa. Algo que não se pode mudar, estancar, retardar: envelhecemos e pronto.
E estamos envelhecendo mais: segundo o IBGE, a diminuição das taxas de natalidade e o avanço da medicina, elevaram a expectativa de vida – e, consequentemente, o número de idosos. E, adivinha, esse número deve aumentar: por volta do ano 2050, haverá, no Brasil, 73 idosos para cada 100 crianças – para uma população de aproximadamente 215 milhões de habitantes.
Acontece que nossa sociedade parece não estar preparada para isso: a juventude se comporta como quem não vai envelhecer – e aí vai uma informação crucial: a menos que se morra jovem, essa é a única alternativa para todos.
Só que enquanto ninguém pensa muito sobre essa realidade, o que se vê tristemente nas ruas e nas famílias é um total desrespeito aos considerados idosos. Dependendo de uma determinada idade que os mais jovens estipulam como velhice, passam a debochar e desprezar os mais velhos como se não merecessem mais ser ouvidos. Negligenciam a experiência e desmerecem o conceito de que quem viveu mais, errou mais, mas também aprendeu mais e tem mais bagagem.
As limitações físicas também são ignoradas: esquecem que, à medida que envelhecemos, o corpo fica mais frágil e suscetível a quedas e doenças. Temos menos energia, ficamos mais cansados. Portanto, ceder lugar, ainda que não seja preferencial – em filas, em ônibus, em estacionamentos – é, além de lei no País, uma obrigação de todos.
E, acima de tudo, devemos respeito aos mais velhos por tudo o que eles representam na vida de cada um de nós – enquanto familiar – e na sociedade.
Em rede nacional, quem assiste ao Big Brother Brasil – sem entrar no mérito do programa em si -, está vendo essa realidade escancarada: Mariza, uma das integrantes do reality, que tem 51 anos (!!!), é quase todo o tempo tratada por vários outros participantes mais jovens com ironia e gozação. É um desrespeito estarrecedor.
Mas qual é a idade que uma pessoa deve ser considerada ‘velha’? Frases de auto-ajuda costumam afirmar que envelhecer é um estado de espírito e o humor ressalta que a velhice está sempre dez anos à frente do que se tem. É uma sensação que, acredito, todo mundo experimenta e acho que isso acontece porque enquanto se envelhece não se tem uma percepção real do processo.
É claro que, à medida que o tempo passa, a gente nota que algumas coisas ficam mais difíceis, detalhes do passado vão escapando – a memória só abarca o essencial -, mudanças orgânicas ocorrem e o corpo fica diferente.
Mas o que efetivamente faz diferença é o quanto de referências se conhece e se sabe enquanto estamos envelhecendo – e isso traz muitos benefícios na vivência pessoal. Com o que eu sei hoje, aos 47 anos, inúmeras coisas eu não faria e poderia alertar aos mais jovens – se eles quisessem me ouvir -, visando poupá-los de muitas frustrações que enfrentei. E uma pessoa de 60, 70, 80 anos (ou mais!) pode me poupar de erros desastrosos que ainda arrisco cometer.
Seja como for, passa da hora de nos conscientizarmos – e conscientizar as crianças, adultos do futuro -, de que as pessoas mais velhas (ainda que só um pouco mais velhas do que nós) merecem atenção e respeito, ao invés de ignorância e desprezo. Porque, quando nada, são infinitamente mais sábias – qualquer que seja a nossa idade.
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