Não me falta quase nada na vida, mas o que falta tem uma importância enorme.
Acima de tudo, tenho teto, saúde e vontade: o suficiente para me virar nessa vida. Tenho uma família, muitos amigos e trabalho com o que me faz feliz – um privilégio de poucos, na atualidade.
Mas hoje é domingo, e domingo é um dia cruel porque pede companhia. É domingo de manhã e eu estou aqui sozinha em meu apartamento. Não há com quem dividir a semana e o café: coisas da vida.
O que o domingo sempre me lembra é que, embora não me falte companhia, me falta um companheiro para a trivialidade, para as pequenas bobagens de um cotidiano.
Não faltam programações, amigos, saídas, filmes. Mas há um buraco. Há um grande abismo que deveria ser preenchido com cafuné, risada, sorvete, preguiça na cama e cozinhar juntos. Preenchido com o primeiro olhar assim que acorda, aquele olhar que diz: “que bom que você está aqui”.
O mundo é tão individualista, está tudo tão acelerado… Não há de ser ruim desejar um freio e um afago. Rachel de Queiroz já tentava explicar esse sentimento em seus versos: “A gente nasce e morre só, deve ser por isso que tem tanta necessidade de viver acompanhado”.
Enquanto não me acontece de viver na plenitude de construir algo com alguém, da minha janela eu fico olhando o mar. A água, calma, sempre corre e deixa claro que isso também passa. Solidão passa. O domingo passa.
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