Nesses dias em que a Morte nos ronda é impossível ignorar a finitude.
Penso nas famílias que perdem seus entes queridos, gente como eu e você, muito além dos números e estatísticas fixados na tarja vermelha da TV: gente com nome, sobrenome, mulher, marido, filhos, pai, mãe, netos, irmãos, enteados.
Pego-me pensando no porque não tem uma lista de nomes dessas pessoas – como fazem com acidentes de aviões. Não seria justo?
É verdade que, aos poucos, vão aparecendo rostos: todo mundo conhece pelo menos uma pessoa vítima da doença. Será que quando isso acabar teremos um “Memorial Covid” em todos os países?
Ninguém consegue divisar o que vai ser do futuro e manter o otimismo começa a exigir um esforço a mais.
Pensadores já estão filosofando sobre a vida pós pandemia. Ouvi Cortella, Karnal, Pondé: eles falam mais do passado e são genéricos – quem vai se arriscar a dizer como o mundo vai lidar com tanta dor, trauma, com tanto susto?
Leio gente dizendo que vamos ter saudade do isolamento. Justificam: estão interagindo mais com os filhos, trabalhando menos, aprendendo a cozinhar, e por aí vai. Ou seja: vivendo no “País das Maravilhas” – como não?
Hoje morreram 600 – SEISCENTAS – pessoas (sem contar a subnotificação (mais de 2800, incluindo um bebê, que estão “catalogados” como morte por “síndrome respiratória grave”)) e temos nossa “Rainha de Copas” vociferando a versão moderna do “cortem as cabeças”: “calem a boca”! 🆘🇧🇷
Não… Que me perdoem os felizes alienados, mas não vou ter saudade de nada disso.
Saudade eu sinto do meu pai e do que me fez bem – e, nesse momento, mesmo eu que sou uma pessoa prática e nada passional, não consigo enxergar nada que vá valer a pena recordar, porque até no vacilo de uma alegria eventual, a sombra da morte nos persegue – a nós e aos que amamos.
Sei que precisamos nos animar, mas não se deixe enganar por ilusões poéticas, religiosas ou utópicas: ninguém está seguro. Se puder, continue em casa. 🆘🦠
The Day of the Dead (1859) | William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)
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