A citação do filósofo alemão Walter Benjamin – “A humanidade precisa tanto de histórias, quanto de pão” -, retrata bem a necessidade do ser humano em narrar suas histórias.
Comemorado em 20 de Março, principalmente na Europa, o Dia Internacional do Contador de Histórias teve início em 1991, na Suécia e ficou mundialmente conhecido apenas em 97, quando contadores de histórias na Austrália Ocidental coordenaram uma celebração durante uma semana, no Dia Internacional de Narradores Orais.
A cada ano cresce o numero de eventos de Contadores de Histórias no mundo, mas no Brasil esta data ainda é pouco divulgada. Geralmente, este papel fica a cargo de professores, profissionais de artes cênicas e demais categorias que atuam levando o encantamento das historias aos mais diversos públicos, mas muitas livrarias já oferecem essa atração para crianças, normalmente nos finais de semana, promovendo uma intensa interatividade entre o contador e seu público, que integra beleza, sabedoria e valores nas narrativas.
Em tempos em que a tecnologia pode afastar as crianças dos livros, o Contador de Histórias preserva a arte e a tradição milenar da narrativa oral, acenando com um horizonte de encanto e fantasia através de sua voz.
“Creio no contador, como memória viva do amor e creio em seu filho, e no filho de seu filho, e no filho de seu filho, porque eles são a estirpe da voz, os criadores da terra e do céu das vozes: voz das vozes.
Creio no contador, concebido nos espelhos da água, nascido humilde, tantas vezes negado, tantas vezes crucificado, porém nunca morto, nunca sepultado, porque sempre ressuscitou dos vivos congregando-os a ser: xamã, fabulista, contador de histórias…
Creio na magia que na entrada das cavernas acendeu o primeiro fogo que reuniu como estrelas: o assombro, o tremor, a fé.
Creio no contador, que desde os tempos tribais a todos antecedeu para alcançar-nos por que é.
Creio em suas mentiras fabulosas que escondem fabulosas certezas, no prodígio de sua invenção que vaticina realidades insuspeitas, e também creio na fantasia das verdades e nas verdades da fantasia, por isso creio nas sete léguas das botas, na serpente que antes foi inofensiva galinha, e no gato único no mundo, aquele gato que ao miar lançava moedas de ouro pela boca.
Creio nos contos de minha mãe, como minha mãe acreditou nos contos de minha avó, como minha avó acreditou nos contos de minha bisavó e recordo a voz que me contava para afastar a enfermidade e o medo, a voz que recordava os conselhos entesourados pela mãe para passá-los ao filho: “Não te desvies do teu caminho.”; “Nunca faças de noite o que possas te envergonhar pela manhã.”
Creio no direito da criança escutar contos; e mais, creio no direito das crianças vivas dentro dos adultos de voltar a escutar os contos que povoaram sua infância; e mais, creio nos direitos dos adultos desde sempre e para sempre de escutar contos, outros novos contos.
Creio no gesto que conta, porque em sua mão desnuda, despojadamente desnuda, está o coelho.
Creio no tambor que redobra, porque o que haveria sido do mundo se não tivesse sido inventado o tambor, se a poesia não reinventasse o mundo dentro de nós, se o conto, ao improvisar o mundo, não o reordenasse, se o teatro não desvelasse a cerimônia secreta das máscaras e por isso…
Por que creio, narro oralmente.
Creio que contar é defender a pureza, defender a sabedoria da ingenuidade, defender a força da indagação.
Creio que contar é compartilhar a confiança, compartilhar a simplicidade como transparência da profundidade, compartilhar a linguagem comum da beleza.
Creio que contar É AMOR.”
Garzón Céspedes
- O AMOR ACABA - 15/12/2023
- MAURA LOPES CANÇADO – O QUADRADO DE JOANA - 23/04/2023
- O MANIFESTO: “DOMINGO A GENTE FAZ UM PAÍS.” - 22/10/2022