Primeiro foi a cachorrinha. Depois a avó. Em seguida, o bisavô. Então aconteceu o acidente fatal com a professora. Agora, a irmã vai operar o coração. E teve o pai, que também sumiu – antes de tudo. Aos sete anos ele tem a sensação de que o mundo ao seu redor está desaparecendo. Decidiu falar pouco e não perguntar nada: tem um tanto de medo das respostas e não quer saber muito. Observa os movimentos da casa e, de vez em quando, flagra a mãe chorando, trancada enquanto se banha. Ele se senta do lado de fora da porta pensando que, mesmo sem ela saber, talvez possa ser cúmplice da sua dor com uma amorosa e silenciosa presença oculta. Só não quer que ela descubra que, desde a semana passada, parou de rezar. Do alto da sua inocência, num súbito clarão, teve certeza de que os céus eram só uma miragem para pendurar sol, lua e estrelas, e os Anjos da Guarda apenas uma versão mais iluminada da Fada do Dente.
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