Quando Lucian foi embora com uma de suas melhores amigas, Melina se recolheu como num luto. Ela falou pouco sobre o assunto e cinco anos depois parecia refeita: nunca mencionava a antiga relação e nem dava indícios de amargura. Por isso, quando tudo aconteceu, ninguém soube explicar – nem entender – como aquela moça pacata, bonita e gentil, pôde fazer algo tão estarrecedor. Naquela manhã nublada de segunda-feira, ao invés de ir para o trabalho, ela dirigiu até a casa do rapaz. Com a chave reserva que ele havia esquecido anos antes sobre a cômoda, entrou calma e silenciosa: eles ainda dormiam, tranquilos e seminus. Ao pé da cama, ela os observou por alguns instantes e, mais do que nunca, amou aquele homem. Uma lágrima quente escorreu. Dois estampidos certeiros seguidos de uma quietude ensurdecedora tomaram o aposento. Quando a polícia chegou, ela estava sentada no chão, inerte e abandonada em si mesma. Algemada, apenas sentenciou: crime de amor nunca prescreve.
| Débora Böttcher |
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