REFLEXÃ0

CRIANÇAS VÊEM. CRIANÇAS FAZEM.

A máxima nos diz que crianças não tem partido político, religião, preconceitos: esses e outros valores são passados por pais, avós, professores e pela sociedade – os ambientes em que vivem.

Outra máxima prega: “Crianças vêem. Crianças fazem.” O vídeo publicitário australiano abaixo ilustra bem a importância do exemplo no comportamento das crianças.

Não há, em nosso país, uma preocupação quanto à preparação de nossas crianças e adolescentes para o exercício consciente do voto. Alguns professores e escolas, normalmente no ensino médio, até se inquietam com isso, principalmente em períodos pré-eleitorais, dispondo-se a discutir propostas, falar sobre os cargos em disputa ou até mesmo realizar debates com alguns candidatos (quando isso é possível). Mas isso é tudo – pelo que sei.

Então você vê uma criança de dez anos debochando do ex-Presidente por ter um dedo a menos, espalhando imagens ofensivas pela perda física – em redes sociais e grupos do whatsapp. Você lê sobre crianças e adolescentes praticando bullying contra o coleguinha negro ou atacando a menina de olhos azuis que afronta a beleza das demais. Você vê crianças maltratando animais com prazer.

No futuro, essas crianças serão aqueles jovens que horrorizarão alguns pais e parte da sociedade atacando um homossexual em plena avenida movimentada – digo ‘alguns’ e ‘parte’ porque há quem aplauda esse tipo de atitude. Também serão aqueles que vaiarão o Presidente usando palavras que deveriam ser impublicáveis. Aqueles que pensarão que ateus e muçulmanos pertencem à classe de pessoas que devem ser temidas e afastadas do convívio. Que pregarão que o povo que mora no Nordeste atrasa o País por não saber distinguir um bom líder.

E onde aprenderão coisas assim? No exemplo que vêem, principalmente, em suas casas. É fato: mesmo que se delegue parte da educação à escola, pais ainda são os maiores responsáveis pelos valores que seus filhos herdam. As conversas que eles ouvem serão assimiladas e repetidas. As palavras e as atitudes ficarão gravadas feito tatuagem em suas memórias e imitadas ao longo de suas vidas.

Eu sei que muitos formarão uma personalidade avessa ao que lhe foi ensinado – e contra isso não há nada que se possa fazer: o meio que escolherão fincar trajetória sempre terá alguma influência. Mas, via de regra, a base dos ensinamentos costuma prevalecer: pais são espelhos.

Eu não tenho filhos, mas com tudo o que ouço, vejo e percebo nas mães e pais que conheço, consigo imaginar como é difícil educar uma criança, prepará-la para a vida, para o mundo muito imperfeito em que vivemos – que também é fruto do que construímos.

E a pergunta que me faço é como poderemos desejar um mundo melhor se não semearmos valores maiores às nossas crianças. Se não aprimorarmos nossas palavras, gestos, condutas, o que podemos passar para esses que serão – e farão – o futuro?

O que você está ensinando ao seu filho?



Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.