Lançado em Setembro de 2013, o filme esloveno “Class Enemy” (tradução livre “Inimigo da Classe”), conta a história de um professor de alemão contratado para substituir a docente regular pelo seu período de licença maternidade.
Menos acessível a brincadeiras e intimidades que ela, autoritário e de temperamento mais sério e discreto – além de exigente -, ele tem que lidar com a severa hostilidade da classe quando uma das alunas comete suicídio.
Sabina, a aluna em questão, é uma menina introvertida, pouco popular, estudante de piano, que costuma tocar Chopin na sala de música da escola. Um dia depois de uma conversa densa sobre o sentido da vida com o novo professor, Sabina salta da janela do prédio escolar.
Não é difícil imaginar o quanto isso choca todos os companheiros de classe e como os sentimentos passam a se misturar – inclusive para aqueles que não tinham nenhuma intimidade com Sabina. Nessa confusão afetiva, um bode expiatório se faz necessário e o escolhido, claro, é o professor rude e de poucas habilidades emocionais, que tem por objetivo continuar a dar sua matéria como se nada tivesse acontecido.
Em tese e sob um olhar superficial.
Entretanto, ao abordar a vida e os escritos de Thomas Mann – autor alemão (1875-1955, prêmio Nobel de 1929), que vivenciou o suicídio de suas irmãs Carla (com cianureto, em 1910) e Júlia (enforcando-se, em 1927); da mulher de seu irmão Heinrich, Nelly Mann, em 1944 – que se matou tomando um vidro de soníferos -, e cinco anos depois, de seu filho Klaus, que era homossexual -, o professor escancara o assunto – até de maneira exaustiva, instigante e contundente.
Acontece que, como bem sabemos, as lacunas deixadas por alguém que se suicida são um abismo sem fim e provocam os mais diversos instintos – da revolta à resignação. As inúmeras perguntas que ficam sem resposta, podem levar a desvios incompreensíveis de comportamento até mesmo pessoas centradas – que dirá adolescentes ainda não alicerçados emocionalmente.
O que se vê então é uma rebelião jovem, que tenta se vingar da dureza da realidade, numa luta de poder feroz, culpando o sistema e a própria austeridade do professor, delegando a ele um peso que, definitivamente, não lhe pode ser conferido.
É interessante ainda perceber como os adultos lidam com a questão e como as pessoas se transformam quando contrariadas em seus interesses, como manipulam, como ‘seguem a manada’ das conveniências pessoais, e como é difícil para aqueles que não abrem mão de seus princípios e personalidade viver num mundo que se corrompe a toda hora – e até por pouco. Desafios e pressões do modelo da ‘nova escola’ também estão presente.
Como quase todo filme europeu, esse também é lento, mas de excepcional argumento e profundidade – especialmente para quem tem filhos adolescentes. Funciona quase como um experimento humano.
Não deve ser fácil de encontrar – não entrou no circuito nacional (foi selecionado pela Eslovênia para concorrer a Melhor Filme Estrangeiro ao Oscar de 2014, mas não foi escolhido), e não sei se está disponível no Netflix. Mas se tiver oportunidade, não deixe de ver.
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