A cartomante falou de um homem claro, pouco mais jovem que ela, que traria nova luz aos dias pesados e solitários. O rosto da médica se iluminou, já o conhecia: ele era dois anos mais jovem e trabalhavam juntos no Hospital. A cartomante a interrompeu com um gesto leve, declarando que o homem em questão não era médico. Os olhos dela se estreitaram, desapontados e furiosos. Longo silêncio se fez na enorme sala, antes que a médica estendesse o pagamento. A cartomante recolheu o baralho, apagou a vela e levantou-se. “- Não é esse homem”- profetizou, e ouviu a porta bater-se com força às suas costas. Muitos dias depois, após a exaustiva jornada hospitalar, ela tomava café no antigo pub, a música calma vinda dos fundos. Procurou na bolsa seus cigarros e então percebeu um braço estendido, a chama do isqueiro iluminando seu rosto cansado na penumbra do lugar. Sobressalto: o rapaz sorriu. Ambos riram. Num clarão, ela se lembrou da cartomante. E soube: as cartas não mentem.
| Débora Böttcher |
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