Para ela, a Festa do Rei Momo sempre causou inexplicável melancolia. Máscaras e sombras desfilando, a nudez vestindo-se de luz e purpurina, brilhando e despertando sensações – aquelas que ficam guardadas nos sótãos da alma, o ano inteiro escondidas. Atrás da maquiagem, véus e cores, pode-se ser quem quiser: cada um vende seu sonho e vive sua loucura, despido de cotidiano. A mentira é soberana e governa os cinco dias do ano em que tudo é permitido. Uma desordem se instala e aquarta-feira – e só depois do meio-dia – é que aciona o botão da realidade novamente. Ela ainda era jovem quando o carnaval perdeu completamente o glamour. O tom de amargura que a invadia desde os primeiros tempos agigantou-se e ela se deu conta de que não havia fantasia capaz de burlar sua desencantada emoção. Talvez tenha sido um certo Pierrot, sua própria Máscara Negra. Quem sabe uma enrustida saudade, o beijo prometido que nunca aconteceu: a lágrima ficou engasgada e assim desmanchou de vez a ilusão.
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