CRÔNICAS FALAS CONTADAS

BRINNY E LUNA

Brinny sempre foi companheira. Ela usou uma pulseirinha de ouro minha (como coleirinha) ao ser escolhida entre nove filhotes.

Era arteira – uma vez que saímos e deixei uma nesga de armário aberta, foi suficiente pra ela mastigar um pé de cada sandália.

Costumava sentar na cabeceira dos sofás, de onde tinha visão privilegiada da mesa – e uma vez, no Natal, “roubou” um lombo inteiro, prontinho pra ceia, enquanto saí dez minutos pra buscar fio de ovos na padaria da esquina.

Comilona, ela adorava o Natal por causa das sobras – aqui damos comida de verdade para as “cãs”.

Por ironia, nos deixou exatamente na data: a véspera de Natal de 2015…

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Luna nos chegou no fim de Julho de 2017 – um ano e meio depois da morte da Brinny.

Eu ainda não queria outro cachorro, tínhamos decidido ficar só com Maya, nossa Labradora Chocolate.

Abandonada no posto de gasolina em frente ao condomínio que moramos, foi resgatada por uma Protetora e cuidada por nossa veterinária – que nos convidou a conhecê-la.

Meu marido que foi vê-la (eu recebi a mensagem enquanto estava no dentista e repassei a ele) – e se apaixonou instantaneamente.

Luna tem problemas motores, ansiedade exagerada, problemas respiratórios e uma agitação noturna que, quase três anos depois, só conseguimos amenizar um pouco. Ela também tem pavor de chuva e trovoadas – coisa que nossas “meninas”, sempre seguras, nunca tiveram.

Há um ano, convivemos com a piora de seus problemas respiratórios depois de contrair uma gripe canina no hotelzinho em que a deixamos, junto com Maya, durante nossa viagem a Miami.

Todos os dias eu lido com a culpa – de tê-la deixado – e a impotência – de não conseguir, apesar dos esforços, nossos e de nossa veterinária, melhorar sua qualidade de vida.

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Foi ontem de manhã que iniciamos com Luna um teste com o diurético que Brinny tomava para seu problema cardíaco – desenvolvido nos três anos finais de sua vidinha de 15 anos.

É uma tentativa de ajudar a eliminar o catarro que persiste no peito de Luna, através da água que ingere – até aqui, não houve corticoide nem xarope ou inalação que desse jeito nisso. De ontem pra hoje, claro, nada mudou.

Mas essa noite sonhei com Brinny: ela e Luna brincavam felizes. Não sei se é um sinal positivo ou um aviso triste.

Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.