Todos os dias a linha percorria o tecido, conduzida pelos seus dedos finos. Cada ponto ela apertava mais sem perceber. Começara solta e a medida que o tempo passava e ele não vinha, o passatempo virava tortura e ela apertava o ponto, apertava os olhos e os dedos na mão. Se ele percorria outra linha e nenhum dos nós os atasse o que seria afinal daquela peça que criava? Não havia rede que prendesse o tempo, nem o nó que pudesse resistir ao aperto deste ponto. Tudo partia junto com a velha linha desgastada. Não fosse o coração a marcar os segundos e os pontos no tecido, já teria enlouquecido em silêncio. E foi assim até que a agulha perfurou a pele naquela tarde quente: levantou os olhos, largou o pano e resolveu correr atrás do tempo, antes que ele se perdesse de vez.
| Andrea Bianchi |
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