Dias depois, ele ainda acharia estranho o silêncio da casa. A mancha na parede que ficou daquele quadro colorido, que ele nem gostava tanto, incomoda mais do que a falta do cachorro. E ele sabia: ainda procuraria restos dela nos seus próprios reflexos – mesmo que ela não tivesse deixado nada pra trás. A toalha molhada sobre a cama, a louça abandonada na pia, sua camisa debruçada no sofá, a mesa da sala em desordenada organização – papéis, cartas, óculos, contas, livros e flores murchas. E o cachorro que não está. Geladeira e despensa revelam que ele está por sua conta e risco – mais risco, já que quase não há nada para comer. A ração do cachorro ficou esquecida num canto. A roupa se amarrota no varal. Que dia será que a faxineira vem? Ele amarra o tênis para a caminhada noturna. Para. Pensa. Olha em volta. Fixa-se no porta-retratos. O cachorro não está. O cachorro faz mais falta do que tudo…
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