“A angústia é o caráter típico e próprio da vida. A vida é angustiosa. E por que é angustiosa a vida? A angústia da vida tem duas facetas. De um lado, é necessidade de viver, é afã de viver, é anseio de ser, de continuar sendo, para que o futuro seja presente. Mas, de outro lado, esse anseio de ser leva dentro o temor de não ser, o temor de deixar de ser, o temor do nada. Por isso, a vida é, de um lado, anseio de ser e, de outro lado, temordo nada. Essa é a angústia.
Pois o nada amedronta o homem.”
García Morente
Em nossa existência temos apenas uma certeza: a de nossa finitude. E a inquietação com o sentido da vida nos torna entes peculiares cuja propriedade mais estranha é a de termos consciência do resto das coisas e de fazermos parte delas. Seres humanos, desde cedo apresentamos nossos relatos, questionamentos, anseios e faltas.
Quando vivíamos submissos às leis da Natureza e buscávamos abrigo nas cavernas, fixamos nossa necessidade de expressão pintando cenas marcantes nas paredes. Assim surgiram os mais excitantes e primitivos museus de Arte da humanidade.
Nossa ideia de SER veio sofrendo enormes e essenciais transformações no decorrer da História e filósofos e artistas até hoje tentam explicar esse processo.
Sabe-se que para enfrentar essa jornada é preciso ir ao âmago das questões, chegar à essência da alma que para Sócrates era a sede da razão – o eu-consciente moral, intelectual e sensível fazendo-se distinto de todos os outros seres da natureza.
A pergunta essencial que Sócrates tentava responder era: o que é a essência do homem? Ele respondia dizendo que é a sua alma e que para tomar posse de si mesmo precisa tornar-se dono de si pelo saber.
Já Santo Agostinho interpreta essa inquietação humana como sendo a necessidade de encontro com a figura divina. O homem que não entra em contato com Deus seria, em sua visão, inacabado, incompleto, vazio. Em contrapartida, aquele que entra e compartilha do divino torna-se iluminado, completo, descobrindo a verdadeira felicidade.
Com as ciências e os anseios de liberdade de Voltaire a Rousseau e a Kant, surge a ênfase nas idéias de progresso e perfeição humanas, assim como a defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais. O Iluminismo vem como uma atitude geral de pensamento e ação, buscando um mundo melhor pela introspecção e engajamento político-social. Nasce o homem moderno.
Seguindo, encontramos o pessimismo de Schopenhauer dizendo que apenas pela arte e pelo abandono de si, o homem poderia se libertar da dor; Kierkegaard considerando que tanto é possível a dor como o prazer, o bem como o mal, o amor como o ódio.
No entanto enfatizando a eterna insatisfação humana onde a relação do homem com Deus seria talvez a única via para a superação da angústia e do desespero marcada pelo paradoxo de ter de compreender pela fé o que é incompreensível pela razão.
Husserl, Heidegger, Sartre, Ortega y Gasset analizam a seu modo como onde e porquê o homem não assume a sua própria cura, se perde e se aliena – já que o ser autêntico exige o mergulho na angústia do Nada.
Ao ter seus anseios de liberdade o homem torna-se responsável por tudo quanto fizer e sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a reinventar-se constantemente.
Aqui trazemos a vida para o agora: a vida humana é sempre minha, a de cada qual, a de cada um de nós. É individual, pessoal e consiste no eu que se encontra numa circunstância no mundo, sem ter a certeza de existir no instante imediatamente posterior e tendo sempre que estar fazendo algo para garantir essa existência.
A ação humana supõe então um sujeito responsável, e a vida é, por essência, solidão.
Entender o vazio existencial numa perspectiva histórico-filosófica nos permite ter um panorama geral amplo e abrangente que abarca diversas linhas de pensamentos dos mais diversos autores e filósofos.
Compreender esse apanhado histórico significa tomar posse dos conhecimentos, teorias e visões que influenciaram e influenciam o que hoje entendemos sobre o tema. E a Arte nos possibilita, agora, empreender uma jornada de identificação do vazio existencial no momento atual, observando as implicações no nosso cotidiano, no sentido de nossa existência e nas nossas vidas como um todo.
- O NOVO COLECIONISMO - 09/06/2016
- O JANTAR DO PODER - 12/05/2016
- NEO-CRIATIVIDADE: NOVAS FORMAS DE CRIAR - 21/03/2016