Ele sabe que no futuro vai sentir saudades de tudo. Sabe que, lá adiante, se viver mais do que ela, vai se arrepender dos beijos e abraços que não deu, das brigas sem sentido, das palavras duras. Tem certeza que vai chorar as lágrimas que hoje lhe faltam, mesmo com essa tristeza que se antecipa. Na noite escura, enquanto a observa, ele pensa no quanto já a amou – muito mais que hoje -, e no que ainda os une. Não tem certeza do tamanho de seus sentimentos, só da intensidade – algo que, apesar de não saber definir, alardeia: a vida sem a presença dela não tem sentido. No entanto, os dias tem sido difíceis, a comunicação truncada, o cotidiano nunca foi tão solitário – mesmo que sua presença o inunde. Mas, no futuro, ele sabe: todas as palavras que não disse – e também as que disse – farão um eco ensurdecedor na ausência dessa mulher que tranquilamente dorme a seu lado sem saber de sua angústia precoce.
Picasso, Femme Dormante (Meditation). 1904
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