Mas a trama simples me veio à memória porque sempre me chama a atenção o fato das pessoas voltarem pra trás em relacionamentos. A mocinha do filme (Reese Witherspoon) o faz, em princípio, por um motivo necessário – precisa do divórcio para casar-se novamente.
Mas – e aqui entra um imenso MAS -, reencontrando o ex-marido percebe que bateu a porta sem fechá-la: deixou ali uma brecha aberta, um vão pelo qual seus sentimentos se confundem. Tudo bem: sendo um conto de fadas (e um Jake) nada mais natural que um final feliz.
Só que o filme acaba.
E eu sempre me pergunto diante de algumas situações retratadas na tela, o que efetivamente aconteceria se o enredo se alongasse além do felizes para sempre.
Seis meses depois – só seis meses – quantos casais vivendo um recomeço continuariam juntos? Quantos, depois de um buraco na relação – no caso do filme, precisamente sete anos -, conseguem retomar as emoções e o cotidiano junto a pessoas que, na verdade, não são mais as mesmas que se deixou?
Não consigo me desvencilhar da imagem congelada: é aquela que a memória registrou como idealizada.
Há em nós uma tendência, quando a separação se dá, de tornar o outro um ser perfeito, lembrando apenas dos momentos bons. Ninguém se lembra, quando está sozinho e com aquela sensação de ter perdido o amor da vida, de quantas vezes chorou porque o outro foi grosseiro, reticente, distante – estando ali ao alcance das mãos -, chato, aborrecido, intransigente, genioso… resumindo: insuportável nas mais diversas ocasiões.
A lembrança insiste em agarrar-se ao perfume, à voz gentil e delicada – embora, muitas vezes, rara -, às gentilezas – ainda que eventuais -, enfim: à perfeição em forma de gente.
O resultado costuma ser um sofrimento interminável, olhos fechados para o mundo, anos em busca de alguém que nunca estará à altura daquele que nos abandonou – ou que, por uma insanidade momentânea, abandonamos – eu sei porque já fiz esse exercício de auto-destruição (e também não saí impune).
A chave do processo para desvencilhar-se dessa sombra é enxergar que a dor pelo fim de uma relação não transforma o outro numa maravilhosa alma gêmea. E seguir em frente – porque, longe de mim desanimar alguém, mas na vida real esse cenário de comédia romântica, normalmente, não se encaixa com a mesma facilidade da ficção.
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