A novela “Amor de Mãe” tem revelado a maternidade como um modo de vida onde vale tudo para proteger os filhos.
Mas será que isso é legítimo?
Não sou mãe, portanto, minhas considerações são absolutamente racionais. E dentro delas, questiono as atitudes da personagem de Regina Casé – que vão desde acobertar crimes até por pra fora de casa um filho que trava embates sobre sua conduta.
Aliás, como é isso de ‘escolher’ um filho em detrimento de outro? Nesse contexto, poderíamos considerar ‘filhos preferidos’ x ‘filhos preteridos’?
O que dizer de Thelma, a personagem de Adriana Esteves? Que filho consegue dar conta de um amor sufocante, que cerceia seus passos e parece querer ditar seu destino, enquanto esconde segredos extremos?
E como definir Vitória, a personagem de Taís Araújo, que entregou um filho para adoção aos 17 anos, e depois padeceu para adotar e gerar outros filhos? Há redenção possível para o abandono de uma criança?
Vera Holtz, na personagem de Katia Brandão, também teve seu quinhão de amor radical: de frente pra morte iminente, ela só pensou em salvar seu filho do crime. Depois da tentativa frustrada do encontro com Vitória (cena que ninguém entendeu inicialmente (dela tentando invadir o prédio onde Vitória trabalha), usou o desespero de Lurdes (Regina Casé): sabendo que ela faria qualquer coisa para proteger Sandro, pregou-lhe uma mentira que promete ser das mais impactantes quando desvendada.
Há outras mães correndo pelas beiradas – como Natália (Clarissa Kiste), que tenta fazer alienação parental; Lídia (Malu Galli), a única que, até agora, parece se importar pouco com o filho (que vive no exterior, mas vai aparecer); Leila (Arieta Corrêa), que depois de oito anos em coma tem que lidar com uma filha que não viu crescer; Miranda (Debora Lamm), uma mãe e esposa dedicada, cuja história ainda não começou a ser contada.
A novela, segundo portais de entretenimento, vem enfrentando resistência do público: brincando com a “Teoria do Caos” – onde uma pequena mudança no início de qualquer evento simples pode desencadear consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro de várias pessoas -, e com a de “Seis Graus de Separação” – que diz que todos nós estamos interligados por um número pequeno de conexões -, a autora, Manuela Dias, vai estreitando os núcleos, criando um círculo fechado que desafia todas as probabilidades.
Nas minisséries de sua autoria isso era menos perceptível – em capítulos que mostravam um grupo de personagens por semana, só no final a costura de envolvimentos era tecida. Numa narrativa diária, esse entrelaçamento intenso possivelmente está gerando confusão no telespectador – mais acostumado a tramas que combinam humor e surrealismo, além de mocinhas tolas e inocentes, e vilões toscos.
Pessoalmente, gosto desse enredo em que todos são fundamentais – apesar de, às vezes, achar um pouco forçado (muita interligação entre os personagens – que não são muitos, aliás).
Mas meu espanto continua sendo as ações, reações, atitudes e excessos que a maternidade proporciona. Nos contextos apresentados, é como se tornar-se mãe anulasse todos os valores e estruturas que se acumulou durante a existência. Como se a maternidade transportasse a mulher para um campo minado, onde ela não tem mais identidade própria e se movimenta num tabuleiro tipo roleta russa, em que sua trajetória passa a se pontuar pelas vidas que gerou no útero.
Acho a maternidade linda e entendo que é uma escolha e um processo/projeto pessoal bastante genuíno.
Desde que tomei minha decisão, nunca tive dúvidas, e confesso que se era essa a mudança interior que me esperava, sinto-me, mais do que nunca, muito feliz com meu propósito de não ter filhos: pode ser egoísta, mas pra mim, que tenho espírito livre, não tem preço pontuar meu percurso existencial apenas naquilo que me favorece…
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