Recém-chegados da África, a família de angolanos se mudou para uma das trinta casas do pequeno condomínio. Escolados pelo preconceito, não cumprimentavam ninguém. Toda manhã, a moça de pele e olhos claros acenava de sua janela e todas as vezes, ignorada, via as cortinas se fecharem na sombra do seu sorriso. Até que naquela tarde ela bateu à porta. A demora convidava à desistência, mas ela esperou. Quando finalmente se abriu, as duas mulheres se olharam – uma com desconfiança, a outra com delicadeza. A moça estendeu os braços com o bolo recheado. Relutante e sem nenhum sinal de intimidade, a outra colocou o prato sobre a mesa e agradeceu. Quando se virou para partir, sentiu uma mão pousar em seu ombro. No abraço em que descansaram, ambas selaram um pacto silencioso de cumplicidade e amizade profundas.
| Débora Böttcher |
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