Tem cinco anos e começa a ser alfabetizada. Nos afazeres da casa, a mãe não percebe o silêncio – que é o alerta, em se tratando de crianças, que algo está errado. Quando se dá conta, o susto é tanto que as palavras estancam: na parede branca em frente à escada, está lá, em caligrafia caprichada e com múltiplas cores, o alfabeto inteiro, de A a Z. Ela se senta no degrau ante ao desolamento contraditório que a toma: a íntima alegria de ver que a filha, tão pequena, já sabe escrever, se sobrepõe à visão do inevitável mau humor do marido, mais prático que lúdico, ao se deparar com o bê-á-bá em pessoa e arte decorativa no hall de entrada. A menina a olha, inquieta, sem saber se o olhar que recebe de volta é de bronca ou aprovação. E a mãe, dispensando as letras, ainda que sob pena de um entrave conjugal, sorri feliz, abrindo os braços para a cumplicidade e o abraço.
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