Muito antes de completar dois anos de idade, a menina aprendeu que ‘Volto Logo’ era uma expressão usada por aqueles que iam demorar muito ou desejam nunca mais voltar. Ela se lembrava de correr atrás do pai pelo estreito corredor da pequena casa em que moravam. Ele então parava por um momento para se abaixar e dizer a ela que ‘voltava logo’. E batia o portãozinho. Ela pendurava-se na grade enferrujada, as pontas das unhas vermelhas nas mãozinhas que apertavam a barra fina, lágrimas quentes escorrendo nas bochechas rosadas, os olhos mais azuis, muito azuis, azuis da cor do céu. Esticava-se até onde podia para vê-lo subir a rua apressado, sem olhar pra trás nenhuma vez. Assim ela ficava muito tempo no princípio. Até descobrir que aquelas palavras não tinham nenhum fundamento e serviam apenas para enganar sua ansiedade, ludibriar sua esperança, minimizar seu inocente desespero. E quando já tinha crescido, percebeu que há muito deixara de esperar. Por qualquer coisa.
| Débora Böttcher |
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