HIPERBREVES

A CIGANA DE VERMELHO

Ela é uma cigana de vestido rodado. Parece jovem quando o olhar passeia vago sem deter-se em detalhes. Parece alegre, parece rir meio de tudo e de chorar quando as coisas não tem a menor importância. Ela me disse que mora na rua, assim mesmo, sem eira nem beira, porque paredes e tetos são prisões dissimuladas. Que muda de lá prá cá e de cá prá lá porque arrancar raízes é dolorido na hora de partir e “as partidas, você sabe, são inevitáveis”, confidenciou quase num sussurro. Que tem medo do amor porque ele aprisiona mais que as paredes e os tetos e liberta mais do que as ruas – e quem pode viver num inferno desses – perguntou. Mas não esperou pela minha resposta e foi logo dizendo que não tem um nome porque, se fosse assim, seria uma e ela sabe que é um pouco de cada mulher e que cada mulher aspira um pouco dela. Ainda que sem endereço, sem rumo e sem nome, ela é espanhola, flamenca e castanholas.
| Claudia Letti |
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Claudia Letti

Claudia Letti

Jornalista, Escritora, Chef e Astróloga. Vive no Rio de Janeiro.