Dona Jesuína pareceu arrepender-se de alguma coisa, talvez de tudo. O rosto já se pregueando para chorar, estendeu os braços na direção do filho, pediu entre soluços que a perdoasse, se fazia aquilo era por tanto amor que lhe tinha, por tanto orgulho e admiração que ele inspirava. Se tivesse sabido que seu filhinho, nascido em berço mais que humilde, mestiço e bastardo, chegaria àquelas alturas, um homem importantíssimo, teria estourado de felicidade antes de conseguir criá-lo. Não ficasse com raiva dela, eram fraquezas próprias de um coração de mãe – como poderia ela jamais esquecer o desvelo e a atenção que lhe votava o filho, a preocupação em que nada lhe faltasse? Não, não era ingrata, é que lhe doía tanto, embora compreendesse perfeitamente as razões, que não pudesse dizer a todos, como gostaria, que o comerciante e respeitado cidadão Amleto Ferreira era seu filho, seu próprio filho, por ela parido, amamentado, limpado, curado, sofrido e criado.
| João Ubaldo Ribeiro | Trecho de “Viva o Povo Brasileiro”
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