HIPERBREVES

MÃE – JOÃO UBALDO RIBEIRO

Dona Jesuína pareceu arrepender-se de alguma coisa, talvez de tudo. O rosto já se pregueando para chorar, estendeu os braços na direção do filho, pediu entre soluços que a perdoasse, se fazia aquilo era por tanto amor que lhe tinha, por tanto orgulho e admiração que ele inspirava. Se tivesse sabido que seu filhinho, nascido em berço mais que humilde, mestiço e bastardo, chegaria àquelas alturas, um homem importantíssimo, teria estourado de felicidade antes de conseguir criá-lo. Não ficasse com raiva dela, eram fraquezas próprias de um coração de mãe – como poderia ela jamais esquecer o desvelo e a atenção que lhe votava o filho, a preocupação em que nada lhe faltasse? Não, não era ingrata, é que lhe doía tanto, embora compreendesse perfeitamente as razões, que não pudesse dizer a todos, como gostaria, que o comerciante e respeitado cidadão Amleto Ferreira era seu filho, seu próprio filho, por ela parido, amamentado, limpado, curado, sofrido e criado.
| João Ubaldo Ribeiro | Trecho de “Viva o Povo Brasileiro”

 

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Garimpa Hiperbreves de autores famosos e consagrados.

Hiperbreves são contos curtos: uma forma narrativa, geralmente em terceira pessoa, caracterizada principalmente por sua extrema brevidade. Criado possivelmente pela literatura espanhola sob o nome de Microrrelatos / Micronarrativas, os textos devem atender a certos requisitos - geralmente, parágrafos únicos, de 140 a 1500 caracteres, narrados em terceira pessoa, cujo resultado final deve ser a capacidade de provocar interesse e surpresa ao leitor usando o mínimo de recursos.

No caso desse projeto, as histórias contadas devem ter, obrigatoriamente, até mil caracteres em parágrafo único - contando letras, espaços e pontuação -, narrados em terceira pessoa.