A casa guardava segredos nas paredes. Dava para ver a marca de cada quadro e os riscos de giz que o papel de parede velho deixava aparecer. As escadas arranhadas davam a impressão de terem corrido por ali alguns animais. Gatos? Cães? Riscos pequenos de unhas duras. Por certo teria sido um lugar alegre. Uma casa assim, tão grande, não podia ter servido a uma família pequena. Na cozinha gordura velha nos azulejos antigos. Certamente, muitos pratos feitos ali. Bolos? Frituras com certeza! No jardim uma árvore velha, boa para um balanço grande. Mas não tinha nada. Causava estranheza um pedaço de chão tão mal cuidado, nada de flor, nem aquelas que nasciam em todos os cantos. Levantando o olhar e olhando o lado de fora, a casa era triste de se ver. A pintura desgastada e uma arquitetura que não se reproduz mais. Não eram fantasmas que arrepiavam a pele de quem passava. Era o vento que zumbia por entre as frestas de janelas e portas que pareciam gemer de saudade.
Foto: Carlos Hollanda |