Naquela manhã ensolarada de Setembro, ela descobriu nas coisas do marido uma certidão de nascimento. Com o coração aos trancos, viu ser de uma criança nascida no ano anterior. No documento cuidadosamente dobrado, em letras claras que se tornaram garrafais, lia-se o nome dele no campo “PAI”. Ela telefonou para o cartório da cidade – outra, longe da sua -, para constatar a realidade súbita que viveu por anos à espreita: com a sombra da traição sempre passeando pelos cantos da casa, um dia era inevitável que isso ou algo parecido acontecesse. Foi atrás de saber onde viviam a mãe e o filho e soube tanto mais, que não lhe restou alternativa senão, finalmente, arrumar-lhe as malas e mandar-lhe aos quintos dos infernos – não sem chorar por meses, inconsolável. Quando saiu do luto emocional, desenvolveu vocação para ser amante: agora, é ela quem tem o destino enredado em tramas secundárias.
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