Não havia se casado, não tinha sobrinhos. No seu apartamento confortável, só os gatos. Quando lecionava sempre tinha o que fazer. Agora, não lhe restava muito. Descobriu que as pessoas precisavam ser consoladas por suas perdas. Ela entendia muito pouco de saudade, mas conhecia o vazio. Dedicou-se então aos velórios. No início, de vizinhos, amigos e familiares distantes. Depois tomou gosto pela coisa e começou a buscar nos jornais – todos os dias alguém morria. Seu guarda roupa foi acumulando sóbrios modelitos pretos. A cor lhe favorecia muito – era uma senhora gorducha, mas não obesa. Muito saudável e elegante, sempre discreta, corria todas as capelas do cemitério oferecendo seu ombro amigo. Voltava para casa muito feliz com seu “trabalho”. As vizinhas comentavam, mas ela nada lhes devia. Encontrara o que fazer, sua missão nesta vida. Sempre voltava com um cartão ou um terço, e dizia a si mesma que, se quisesse, poderia até se ocupar de outra coisa.
Últimos posts por Andréa Bianchi (exibir todos)