Sempre tive “problema de audição às avessas”: eu ouço muito bem.
E ouço ruídos que quase ninguém percebe – talvez os animais. Barulhos como latidos recorrentes, obras, máquinas, eletrodomésticos – já devolvi um liquidificador por não suportar o som -, me tiram o ânimo.
Aqui no condomínio onde moro usam um aspirador de folhas que é enlouquecedor – pior quando eles resolvem limpar as ruas às oito da manhã – eu sou notívaga, esse horário é madrugada pra mim. Acordo com dor de cabeça, a irritação e o mau humor nas alturas, o dia perdido.
Quando menina, eu implorava pro meu pai por um telefone – era artigo de luxo na época, caro, e não tinha linha em todo lugar. Um dia, finalmente o instalaram na minha casa – lembro até hoje do número: 8-4100. Uma semana depois eu não aguentava mais o barulho: implorava pra desligarem, devolver, sumirem com o telefone. A solução foi deixar no mínimo – só que só eu escutava quando tocava (e não atendia).
Quando fui morar sozinha, eu tirava o telefone da tomada. Uma vez, num Carnaval, ilhada no apartamento, tranquila no feriado prolongado, sem querer sair ou falar com ninguém, telefone sem som, família e amigos pensaram que eu tivesse morrido. Só acalmaram quando uma amiga bateu lá e eu avisei a todos que estava bem, só queria ficar quieta e em paz – paz – não sei se todo mundo sabe -, é palavra derivada de silêncio.
Meu celular está sempre no mínimo e vejo TV no volume 07 – ou até menos; tênis, que amo, quando o narrador/comentarista é chato, assisto no mudo.
Já desisti de sala de cinema por causa do som absurdamente alto (precisa?) e agradeço ao universo: nunca tive cães latidores.
Sei que com o passar dos anos, envelhecendo, a surdez deve me alcançar. Mas enquanto esse instinto ainda me está aguçado, minha súplica é por um mundo mais silencioso, ruídos mais baixos, menos balbúrdias.
Vão dizer que eu sou chata. Talvez seja mesmo. Mas atesto que vida é mais bela na quietude – e eu posso provar.
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