HIPERBREVES

VOO

Única herdeira do segundo marido, Luiza gasta parte da fortuna em viagens. Diana, a amiga de infância, fica com a incumbência de cuidar da Labradora, parceira inseparável, que ela sempre lamenta não poder levar pelo mundo. Checa a mala com que vai mais uma vez a Paris: quer começar o novo ano iluminada pela Torre Eiffel. No aeroporto, Diana a acompanha no check-in. Na zona de embarque, no abraço que se despede, Luiza tira do pescoço a echarpe rosa e lhe entrega: sabe que ela a adora e deseja que lhe seja símbolo de um ciclo feliz. No último aceno antes de Luiza seguir, Diana sente um aperto, a respiração falha e uma lágrima cisma em rolar, contradizendo o sorriso largo. Horas mais tarde, sentada no sofá do apartamento enorme, com a cachorra a seus pés, dor e desespero a tomam: na TV, o noticiário informa que o voo a caminho da cidade luz obscuramente descansa no fundo do mar.
Débora Böttcher
Últimos posts por Débora Böttcher (exibir todos)

Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.