Recentemente, o humorista Fábio Porchat surpreendeu os fãs com uma nota em que dizia estar se separando da mulher apesar de amá-la. O motivo: ele não quer ter filhos (de jeito nenhum!), e ela não abre mão de tê-los. Não era uma piada.
O impasse, em geral na pauta das mulheres – frequentemente cobradas pelo relógio biológico e pela sociedade -, foi debatido nas redes sociais e trouxe à tona o outro lado da questão, raramente exposto: a paternidade não é para todos.
Entre uma entrevista e outra, ele refletiu sobre arrependimentos futuros, mas foi taxativo: não se sente confortável ante a ideia de colocar um ser no mundo.
Entendo isso muito bem. Quando decidi não ter filhos, mais ou menos aos 35, o dilema também me ocorreu; mas 20 anos depois vivo o alívio de ter feito a escolha certa.
As mães raramente falam sobre o peso da maternidade: com o carimbo de sublime que todas carregam, não cai bem dizer o quanto ser mãe pode ser exaustivo – que o diga o movimento Maio Furta-Cor, que vem chamando a atenção sobre saúde mental materna.
Considero ter ou não filhos uma decisão pessoal das mais importantes – até porque, é aquela literalmente pra vida toda. E isso, por si só, já contém uma carga enorme.
Só que o pacote é muito maior, a responsabilidade infinita, e o custo-benefício bastante duvidoso: bebês são fofos, mas choram e crescem; às vezes, tornam-se adultos gentis, outras nem tanto; ninguém sabe, ao olhar para os olhinhos inocentes e as bochechas rosadas, qual será o destino de uma criança – e essa incógnita, pra mim, seria um pesadelo diário: um presidente ou um assassino? Uma bailarina ou uma golpista? Um médico ou um louco?
Nesse contexto, sinto-me salva de pelo menos uma das armadilhas da vida.
E mesmo que algumas mães já venham expondo pontuais dissabores da maternidade, e ainda que se observe com visão de helicóptero suas falas de glória e ações heroicas, raramente se consegue decifrar se são felizes ou conformadas – e esse deve ser o segredo que cada uma guarda sob o manto das dores e medos que não tem nome…
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