Estima-se que mais de cem mil obras de arte confiscadas pelos nazistas não tenham sido devolvidas aos seus donos legítimos até hoje. A austríaca Maria Altmann foi uma das poucas premiadas com essa devolução: 68 anos depois das pinturas terem sido levadas da casa de seus pais, mortos durante a Guerra, elas lhe foram restituídas – não sem uma batalha judicial.
Um desses quadros (eram cinco) é a famosa pintura de Gustav Klimt, o magnífico Retrato de Adele Bloch-Bauer I. Adele era tia de Maria. E essa é a história contada em A Dama Dourada, com a adorável Helen Mirren no papel de Maria, e Ryan Reynolds como seu advogado jovem, idealista e inexperiente.
O filme se passa na década de 80. Judia, Maria sobreviveu por conseguir fugir para os EUA, junto ao marido, no início da Segunda Guerra Mundial. Quando a irmã de Maria morre, ela encontra cartas e documentos deixados por ela, e decide processar o governo austríaco para recuperar as obras roubadas de sua casa durante a ocupação nazista – que lhe dizimou o restante da família (os pais e o tio – Adele morreu aos 43 anos vítima de meningite, pouco antes da Guerra chegar à Áustria).
O Diretor Simon Curtis (de Sete Dias com Marilyn), foi brilhante na condução da trama: ele conseguiu captar com delicadeza toda a dor que esse resgaste trazia, exaltando a Justiça – e não o valor das obras – como o ponto alto dessa recuperação. Também mostra, até com sutileza, como é difícil para os países que abraçaram a Alemanha durante a Guerra admitirem seu erro de avaliação e a relutância que ainda hoje muitos descendentes enfrentam nesse processo de remissão e reconhecimento do enorme mal causado aos Judeus.
A pedido de Maria, o quadro está em exibição permamente na Neue Galeria, em NY, tendo sido adquirido por Ronald Lauder por 135 milhões de dólares. Mas Maria continuou vivendo na mesma casa simples e a trabalhar na sua pequena loja, doando quase todo o dinheiro recebido de suas pinturas a familiares e a muitas instituições beneficentes. O advogado, também de origem austríaca, doou parte do dinheiro recebido com seus honorários para a construção de um novo edifício para o Museu do Holocausto de Los Angeles, onde vive.
Maria Altmann morreu em 07/02/2011, apenas cinco anos após sua vitória histórica. O filme nos dá uma pequena dimensão de sua trajetória e mostra que nada é capaz de apagar os horrores de uma Guerra.
Não deixe de ver quando chegar aos circuitos nacionais.
- “ALIKE” – PARA QUE EDUCAMOS AS CRIANÇAS? - 22/05/2024
- UM ANO SEM LUNA - 15/05/2024
- A “ONDA” DA COMUNICAÇÃO INTUITIVA - 01/05/2024