A expectativa de vida no Brasil deu um salto de 25 anos. Para nós, mulheres, foram quase 30. O que vamos fazer com esse tempo a mais?
Na verdade, pouco ou nada pensamos sobre o assunto e, quando pensamos, consideramos esse quarto de século um bônus pouco desejável, identificado com uma velhice prolongada e muitas vezes difícil e desassistida. Faz sentido e passa por esse aspecto o filme francês E Se Vivêssemos Todos Juntos?, do diretor Stéphane Robelin – com Jane Fonda e Geraldine Chaplin. Lançado no Brasil em 2012, é sobre um grupo de amigos de 70 e muitos ou 80 e poucos que encontra uma solução comovente e divertida para seus anos finais. No papel de uma setentona francesa, Jane Fonda está chique e belíssima e é um ótimo exemplo de estrela que está sabendo usar o bônus do tempo sem perder a classe.
Mas o ponto aqui não é só saber envelhecer ou se preparar para o fim, é também reprogramar o começo e o meio. Olhamos para nossa vida ampliada e, simplesmente, não ajustamos os relógios a nosso favor. O saldo positivo de tempo conquistado nos últimos anos pouco ou nada tem influenciado nosso plano de carreira, seu percurso, suas possibilidades e suas eventuais reviravoltas. As mulheres, é verdade, já subverteram a agenda biológica quando decidiram ser mães mais tarde (uma brasileira sexagenária foi mãe no ano passado!). No entanto, continuam a acreditar que, quando se trata de trabalho, sua história segue um roteiro tradicional, cronológico e com desfecho precoce – que não foi sincronizado com o novo e longo prazo.
É simples aritmética, só que ainda não nos dispusemos a fazer as continhas básicas. Vinte e cinco anos a mais são o resultado da soma. Divididos ao longo da vida, poderiam ser usados de forma equilibrada durante todas as idades: noves fora, sobraria mais tempo para decidirmos o que queremos fazer, mais tempo para estudar, mais tempo para mudar de ideia e estudar de novo, mais tempo para experimentar coisas diferentes, ousar, acertar, errar… E teríamos mais tempo para empreender, nos especializarmos e traçar estratégias que incluíssem (em vez de excluir) a fase que começa aos 40 anos e segue pelos 50, 60, 70 anos. Ou 80 – por que não? – se chegarmos lá com a saúde que desejamos e merecemos.
Hoje, esse tempo a mais não está sendo bem gasto, e a culpa não é só sua, e sim de um planejamento histórico, para usar um termo do business, que partia de um cenário 25 anos mais curto. A vida espichou, mas as empresas continuam olhando para os currículos de seus talentos como se estivessem nos anos 1980. Muitas companhias estabelecem aposentadorias compulsórias aos 60 anos, o que podia fazer sentido há três décadas, hoje não mais. Sem falar na idade imutável da aposentadoria pela falida e mal paga previdência social. A geração Y parece ter acordado para o fato de que vai viver mais que seus avós e, portanto, pode esticar o famoso período de formação e início no mercado de trabalho. Mas não devemos esperar que essa leva chegue ao poder para vivermos melhor o muito mais que nos foi dado. Vamos fazer a conta e começar a aplicar bem cada minuto dessa prorrogação?
Fonte: Revista Cláudia
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