Em seu inflamado discurso ao ganhar o Oscar 2015, a atriz Patricia Arquette protestou contra a falta de equidade salarial entre homens e mulheres em Hollywood – para se ter uma ideia, nos 500 filmes hollywoodianos de maior bilheteria em 2012, apenas 28,4% das personagens com falas são mulheres. E se ela, com sua fama e sucesso, sofre essa discriminação, imagine nós, as mortais comuns – mesmo as que vivem em países desenvolvidos!
Fica claro, portanto, que as questões de gênero, apesar de fazerem parte das discussões sociais desde o início do século XX, ainda não estão resolvidas – muito menos superadas.
Mas hoje, mais uma vez, eu quero chamar atenção para o que, pra mim, é um dos maiores abusos contra as mulheres: a violência doméstica. Sempre exaltamos os direitos conquistados, mas ainda há muito pelo que lutar e é preciso mais conscientização da sociedade para o problema que não ocorre, como muitos pensam, apenas nas esferas da sociedade de baixa renda – muito pelo contrário. Acontece que nas classes média e alta, vizinhos e amigos raramente sabem que ela está acontecendo, porque as mulheres denunciam menos, não contam pra ninguém nem falam sobre o assunto.
É possível que você conheça uma mulher que sofre violência doméstica e não saiba – muitas vezes, até desconfia, mas não se envolve. É um comportamento comum – a gente pensa que não é problema nosso. Mas é. Uma mulher que sofre violência doméstica, na maioria das vezes, demora muito tempo pra entender que a culpa não é dela e que o agressor deve ser punido. Demora muito tempo para vencer o medo de denunciar, de espalhar aos quatro ventos a agressão e o horror.
Uma das causas é a própria sociedade que sempre questiona erradamente o problema. Não é incomum as pessoas acharem, ao saber de uma mulher que é agredida – moral ou fisicamente -, que ela gosta (?!) – porque, afinal, no dia seguinte, ela sai de mãos dadas, sorridente, com o agressor. A geração que está chegando às Universidades também está tendo uma ideia equivocada sobre a questão: um estudo recente mostra que um terço dos estudantes estupraria uma mulher se não houvessem consequências. Recentemente, um episódio me chamou a atenção: na USP, uma aluna denunciou o ex-namorado por estupro e estava sendo hostilizada pelos colegas do curso de Medicina. Ora! Então porque já me relacionei com um homem ele tem direito a me obrigar a transar com ele indefinidamente? Obviamente que não! E se ele fizer isso sem meu consentimento, é uma violência.
Outra coisa importante que se precisa ter em mente é que, uma vez que a pessoa demonstre comportamentos agressivos, se a vítima conseguiu separar-se, não deve mais encontrá-la. É comum que o agressor peça um encontro para desculpar-se, ajustar o que ficou mal resolvido ou outra intenção qualquer. Não vá. Isso servirá apenas para colocar-se em (novo) risco – as estatísticas demonstram que a maioria dos encontros dessa natureza, terminam em atentado e/ou morte.
Mas isso tudo demonstra claramente que é preciso falar sobre o assunto ao longo do crescimento das crianças, para que desde sempre elas entendam que a violência ou a força não são o caminho para nenhuma conquista – seja de que ordem for.
Eu convido a todos, especialmente as mulheres, para assistir a palestra de Leslie Morgan Steiner, uma mulher inteligente e bem relacionada, que esteve em um “amor louco”: completamente apaixonada pelo homem que constantemente a agredia e ameaçava sua vida. Ela conta o lado escuro de seu relacionamento, corrigindo más interpretações que muitas pessoas têm a respeito das vítimas de violência doméstica e explicando como podemos ajudar a quebrar o silêncio.
Não se cale ao saber que alguém passa por isso. Não se cale se VOCÊ estiver passando por isso.
Denuncie ou ajude a pessoa a denunciar.
O que fazer em casos de Violência
• Disque 180 para obter orientações (a ligação é gratuita e anônima)
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