Vem aí o Natal e – em qualquer tempo – a nossa dica é: dê livros de presente!
Então, vamos a alguns títulos que podem agradar a várias personalidades pra você prestigiar a literatura e espalhar cultura, entretenimento e aprendizado por aí.
“Ódio, amizade, namoro, amor, casamento” [Editora Globo] da escritora canadense Alice Munro, é uma coletânea de contos de 2002 – e uma excelente introdução à sua obra. Premiada com o Nobel de Literatura em 2013, quando esse livro foi republicado, Munro já era uma contista conhecida internacionalmente, com textos que prendem e comovem qualquer leitor.
As nove histórias reunidas funcionam como retratos aparentemente banais, vistos sob a ótica intimista e madura da autora, que desnuda aspectos da alma feminina – como o conflito com a própria aparência, o sentir-se diferente, as ilusões românticas, o jogo entre amor e acaso, o temor do desconhecido e as divergências entre o universo masculino e o feminino, através dos anseios de seus personagens.
“A Cozinha das Escritoras” [Editora Benvirá] é daqueles livros leves, que divertem e ensinam. Não tem tantas receitas como poderia ser esperado mas, ainda assim, é uma deliciosa leitura. Resultado de uma pesquisa da italiana Stefania Aphel Barzini, a obra se debruça sobre a vida culinária de 10 grandes escritoras e conta como a cozinha influenciou seus escritos.
Virginia Woolf abre o livro, mas outras não tão conhecidas, como Gertrude Stein, Grazia Deledda ou Pamela Travers, nos brindam com curiosidades incríveis sobre suas trajetórias. Há ainda histórias sobre Simone de Beauvoir, Ágatha Christie, Elsa Morante, Karen Blixen, Harriet Stowe e Colette.
Um excelente presente pra quem adora culinária e literatura. Se te interessar, compre aqui – que foi o melhor preço que encontrei.
O romance da escritora Carla Dias, Jardim de Agnes, é outro livro que fala às mulheres.
Em Ibidem, uma cidade na qual se transformou o jardim da casa do avô de Agnes, ela trava uma batalha contra o pai para tentar salvar o povoado da manipulação e ganância – pretendendo tomar posse da fortuna da família, ele não mede esforços para desacreditar a filha jovem.
Essa guerra transforma a paz do lugar – onde também Hugo, Beto e Junior vão viver para tentar esconder-se da sociedade após serem julgados e inocentados por um crime que não cometeram – num campo minado de leis controladoras pela ânsia do poder. Esquecida no meio do deserto, essa atmosfera incita a rever valores.
Mas é quando esses quatro personagens se encontram, que a inquietude ganha força. O encantamento de Hugo – o narrador – por Agnes é que vai desfiando a meada de conceitos arraigados, nos fazendo refletir sobre a vida sob o olhar reacionário da moça, que consegue ser delicada e voraz na mesma medida. E é ela, com sua irreverência doce, que dará rumo às vidas que habitam Ibidem: um lugar que parece viver dentro de nós. [Adquira aqui.]
A elegância do ouriço” de Muriel Barbery [Companhia das Letras], conta a história da ligação, bastante improvável, de uma menina rica de 11 anos e uma mulher pobre de 54 – ‘improvável’ porque, afinal, o que pode haver em comum entre pessoas de gerações e níveis sociais tão distantes?
Muita coisa… A começar pela inteligência de ambas, até a perspicácia, o olhar sem retoques para as pessoas e o mundo, a sensibilidade para a arte e a literatura, a inclinação ao silêncio e à reflexão, o despojamento, a profundidade de pensamentos capaz de analisar, sem paixões, tudo que as cerca.
Paloma, a adolescente, e Renée, na outra ponta do tempo, não economizam ponderações sobre a existência fútil e passional, despropositada, e as duas conseguem perceber, mesmo estando em lados opostos, todas as máscaras sob as quais os seres humanos se escondem… O filme baseado no livro é o francês “Le Hérisson” – que não conseguiu captar toda a essência do livro na minha visão.
Contado em duas vozes, em capítulos intercalados, o livro é leve, rico em detalhes de sentimentos e percepções. Uma leitura excepcional e, às vezes, um pouco triste – daquelas tristezas profundas, próprias das tragédias sem sentido, que sempre nos lembram que tudo muda num segundo – para o bem e para o mal: a impermanência.
“Onde não se responde”, da jornalista, escritora e chef Claudia Letti, – que escreve em Estilo 40 -, também ‘conversa’ com mulheres.
Ele é resultado do apanhado de publicações de Afrodite sem Olimpo, o nome do primeiro blog de Claudia, um dos mais lidos no auge da era que deu início às postagens diárias.
A coletânea de posts, crônicas e poesias reunida no livro, compila textos que conseguem ser densos e leves na mesma proporção – uma medida dosada com muito bom humor. Suas palavras, delicadas e sinceras, contam histórias de uma mulher multifacetada pelas diferentes situações que a vida lhe apresenta todos os dias em cenas que nos remetem para acontecimentos em nossas próprias vidas.
Nesse livro, a autora declara seu espanto pela amplitude do universo que a provoca, descrevendo suas experiências ora com certezas, ora imersa em questionamentos. [Adquira aqui.]
Os livros de Juan Pablo Villalobos [Companhia das Letras] são outro primor. Nascido em Guadalajara, no México, o autor morou alguns anos no Brasil (mais precisamente em Campinas, no interior de SP), e agora vive em Barcelona, na Espanha.
A trilogia “Festa no covil”, “Se vivêssemos em um lugar normal” e “Te vendo um cachorro”, não tem propriamente uma sequência, mas é assim classificada por conta da idade dos personagens. Caracterizados como mini-romances, com narrativas sempre em primeira pessoa, o autor usa os três livros para fazer duras críticas ao México. Em “Festa no covil” ele aborda o tráfico de drogas sob o olhar inocente de uma criança – filha de um poderoso chefão do narcotráfico. Segundo li, há uma versão sendo adaptada para o cinema.
Já em “Se vivêssemos em um lugar normal” o olhar recai sobre o País em revolução do ponto de vista que oscila entre um adolescente entediado e o adulto raivoso em que ele se transformou, sua percepção da luta de classes e do papel insignificante e triste que sua família ocupa no mundo.
Em “Te vendo um cachorro” a voz é da velhice, com um personagem de 85 anos relatando suas memórias em meio ao pouco caso das autoridades mexicanas em relação aos idosos.
Não é necessária a leitura na ordem e todos eles são uma excelente reflexão sobre a vida – com desfechos surpreendentes, encerramentos inusitados, impactantes e repentinos, as narrativas deixam uma sensação de ‘quero mais’. O autor tem uma coluna mensal no Blog da Companhia das Letras – que publica seus livros no Brasil.
Outro livro delicioso de ler vai agradar a quem gosta de Música e Literatura: ESSA HISTÓRIA ESTÁ DIFERENTE – Dez contos para canções de Chico Buarque [Companhia das Letras], conta com a junção de dez escritores de estilos diversos, recriando em ficção, através de Contos, o cancioneiro do compositor carioca Chico Buarque.
A composição do time de autores, organizado pelo escritor e jornalista Ronaldo Bressane, tem como ideia universalizar o imaginário do autor de Budapeste e Leite derramado. De caráter multifacetado, os registros literários captados por esta antologia são os mais díspares: alguns textos se baseiam fielmente nos “causos” musicados por Chico, enquanto outros os usam como trilha sonora, cenário, atmosfera; outros ainda emprestam das canções apenas a estrutura, e há aqueles que somente o utilizam como mote.
Entre os autores internacionais, o moçambicano Mia Couto, o mexicano Mario Bellatin e os argentinos Alan Pauls e Rodrigo Fresán, fazem parte do grupo. Entre os brasileiros, a incumbência ficou por conta de Carola Saavedra, André Sant’Anna, Cadão Volpato, João Gilberto Noll, Luis Fernando Veríssimo e Xico Sá.
Com as canções de Chico na cabeça, o leitor vai se admirar com as inúmeras possibilidades narrativas que elas inspiram e com o inesgotável gênio criativo desses principais nomes da literatura contemporânea: uma surpresa a cada virada de página.
“Se eu fosse um livro” é fruto de uma parceria entre pai e filho – uma ótima opção para presentear crianças que gostam de ler.
O poeta português José Jorge Letria parte de uma premissa inusitada: se perguntássemos a um livro sobre suas vontades, seus sonhos e suas expectativas em relação aos leitores, o que ele responderia?
Em poemas curtos e divertidos, ilustrados por André Letria, filho de Jorge, o autor faz uma investigação poética sobre o que um livro supostamente esperaria da interação com seu público.
Veja aqui mais livros para o público infantil e infanto-juvenil.
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