Detox para emagrecer funciona mesmo?
O ciclo do exagero e culpa é perverso e mexe com a cabeça de todos nós. Depois de um período de comilança, muitas pessoas se sentem mal e decidem que precisam fazer algo, sempre de forma radical. Perder peso rápido é prioridade de 90% das pessoas que procuram nutricionistas. É aí que começam as procuras por detox para emagrecer.
Falta paciência para chegar a um peso saudável respeitando os limites do corpo, aos poucos, sem grandes sacrifícios e fazendo as pazes com a comida.
O chamado “detox para emagrecer” vem ao encontro dessa urgência. Não à toa, está entre os recursos mais vendidos atualmente para eliminar os quilos extras. Diariamente, pacientes levam aos consultórios receitas de saúde e sucesso – embora, muitas vezes, venham acompanhadas de certa frustração.
Geralmente, estas dietas são baseadas em líquidos, especialmente sucos, que combinam frutas, verduras e especiarias. Supostamente, eles livram o organismo de toxinas.
Mas não faz sentido, do ponto de vista científico, que um simples suco possa ter o poder de detoxificar o nosso organismo, já que temos um órgão com essa virtude: o fígado. Ele é o verdadeiro detox do nosso organismo.
Consumidas com moderação, algumas receitas são até válidas e interessantes. No entanto, não há nenhuma comprovação científica de que exista no mundo alguma dieta capaz de desintoxicar o nosso sistema digestivo.
Os antioxidantes, as fibras e os compostos bioativos que vêm dos vegetais podem sim trazer efeitos benéficos e até mesmo reforçar o sistema imunológico, mas, em grande quantidade, podem sobrecarregar o fígado. Logo ele, que é um órgão tão importante.
A boa notícia é justamente essa: nosso corpo é capaz de fazer sozinho o detox para emagrecer. Não precisa de suco, de fórmula mágica ou de parar de comer alimentos sólidos.
De onde tiraram o detox para emagrecer?
Você deve estar se perguntando como surgem essas receitas e dietas de detox para emagrecer, se não há comprovação científica de que elas de fato “limpam o corpo” e facilitam o emagrecimento.
O fato é que, no mundo todo, pesquisadores se dedicam a estudar a composição dos alimentos e a forma como nosso organismo reage a eles. Isso é legítimo e ajuda muito a comunidade dos profissionais de saúde a compreender cada vez mais essa maravilhosa máquina que é o corpo humano.
O problema é como os resultados destes estudos são transmitidos para fora do ambiente acadêmico. Muitas vezes, o alarde é enorme em cima de estudos pequenos, que não necessariamente refletem a realidade da maioria das pessoas.
Para detectar que um alimento faz bem para um indivíduo é preciso considerar todo seu histórico, contexto social, ambiental e a sua saúde como um todo. A Nutrição não olha para um alimento isolado, e sim, para um padrão alimentar de um modo geral.
Lógico que há interesses em anunciar que determinado alimento emagrece, previne o câncer e aumenta a disposição. Existe um mercado por trás disso. Já notou que modismos em torno da alimentação vêm e vão?
Quem não se lembra da moda do chá verde? Existem, de fato, estudos que associam o uso da folha com uma possível aceleração do metabolismo, mas isso depende de inúmeros fatores e o excesso traz efeitos deletérios. Aí a notícia simplificada que chega até as pessoas é: “chá verde emagrece”.
Mas não é isso que ciência fala; e sim, que essas pessoas, que tomaram durante tantos meses o chá, dentro de um contexto alimentar específico, tiveram uma efeito no metabolismo e o no estado nutricional. É uma informação muito mais sutil e que não tem a ver somente com o chá. O detox para emagrecer é uma dessas modas que logo será substituída por outra.
Mastigar é melhor do que beber
Recentemente, atendi uma pessoa no meu consultório que me disse tomar suco verde todo dia. Ela usava cerca de três folhas de couve e mais uma série de frutas: pêssego, banana, maçã… e o que mais tivesse dando sopa na fruteira. Fiquei assustada com a quantidade de ingredientes que tinha naquela bebida.”
É um consumo muito grande de uma vez só! Uma quantidade absurda que ela não conseguiria comer se fosse no prato. Lembre-se que tudo em excesso faz mal.
Uma dica que gosta de dar sempre é: prefira se alimentar de coisas que pode mastigar, e não beber, dando preferência aos alimentos de verdade. Isso porque temos uma tolerância maior para líquidos, sem sentir nossa saciedade tão rapidamente.
Um exemplo prático: em um suco de laranja, geralmente se usam de cinco a seis unidades para um copo. Quantas laranjas você conseguiria chupar de uma só vez, se tivesse que mastigar? Com certeza não mais que duas, provavelmente. Uma só seria o seu suficiente… agora beber, sim, aceitamos muito mais ? .
Em tempo: quando você começa a refeição mastigando, a sua sensação de fome já diminui.
No lugar do detox para emagrecer, experimente o equilíbrio
Pelo fato de prometer o emagrecimento acelerado, este tipo de recurso faz com que muitas pessoas acreditem que podem cometer qualquer tipo de excesso. Afinal, supostamente existe uma solução rápida que vai eliminar as consequências das famosas “enjacadas”.
Este ciclo de exageros e restrição acaba sendo um gatilho a mais para o risco de acúmulo de gordura ou mesmo de desenvolver uma compulsão, pois quando o corpo não recebe todos os nutrientes que necessita para se manter vivo, e na quantidade adequada (como é o caso do processo de detox para emagrecer), ele entende que está em perigo e faz o que? Pode se adaptar e se defender com risco de acumular gordura ou desregular seu comportamento alimentar.
Então, preste atenção no todo, não coloque todas as suas expectativas em uma dieta detox que pode mais te prejudicar do que ajudar.
Comer sempre, com equilíbrio, é muito mais prazeroso e sustentável. Bon appétit! 😉
Texto de Sophie Deram, Nutricionista e Coach em Nutrição
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