As crianças agora estudam de manhã. Minha alvorada é às 5h45, com cinco minutos de lambuja entre olho aberto e pé no chão. Alimentar os gatos, preparar café da manhã, providenciar os lanchinhos. Um contraponto significativo para quem, até ano passado, não ficava na vertical antes das oito.
De vez em quando sou eu que os levo para a escola. Não canso de me admirar com a quantidade de gente acordada a essa hora. Eu, que achava que às seis e meia havia, no máximo, vinte ou trinta pessoas na rua, vejo um verdadeiro exército de madrugadores. Padarias cheias (meu Deus, a que horas o padeiro acorda?), pontos de ônibus povoados. Vou bater no próximo que disser que brasileiro é preguiçoso. Não devo ser brasileira.
Faço o trajeto direitinho, nem erro a saída da rodovia. Não se enganem, porém; nesse momento, não sou eu ali dando seta. Sou apenas um holograma com pijama por baixo da roupa. Quem guia o carro é Deus, que acordou um pouco antes de nós. Bem que Ele podia ter dado comida aos gatos, não?
Lentamente, vou incorporando a persona. Geralmente, depois do cafezinho. Agora já sou capaz de lembrar meu nome inteiro, mas não o que tenho que fazer no dia. Recorro à agenda (que não dorme), me assusto. Nem se acordasse às três daria conta. Sou eterna devedora na Serasa do tempo.
Chegarei às dez da noite com metade das pendências intocadas. Vou jogando tudo para o dia seguinte, e para o seguinte, e para o seguinte. Vou (des)enrolando o novelo da vida, trinta e um de dezembro é daqui dez minutos.
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