Assim como se implora à visita que adentra em casa para não reparar na bagunça, faz-se mister pedir a quem entra em nossa vida – namorado novo, por exemplo – para fazer o mesmo, mas em relação a outro tipo de bagunça: a da nossa cachola. Principalmente, se essa visita for voltar mais vezes.
Almofada no chão, pia cheia, roupa aqui e acolá, sapato perdido, pacote de biscoito aberto na cama, livro, correspondência e brinquedo, tudo junto na mesa de jantar… para tudo dá-se jeito. É questão de braço e disposição.
Já para ideia fora do lugar, palavra que vem antes de pensamento, complexo e mania misturados na mesma gaveta, rotina analógica em descompasso com a digital, ah. Nem com as melhores caixas organizadoras do mundo. É quando a pessoa avisa que vai, mas talvez fique, e se ficar, talvez queira ir. Mais ou menos isso, ou nem tanto, muito pelo contrário. É nessa bagunça, de fato, que as visitas reparam.
Bagunça que vem lá dos tempos de projeto, quando a pessoa ainda estava na planta, está fadada a bater ponto, transformando a vida num eterno canteiro de obras. Nada toma forma, tudo é ainda, tudo é quase, tudo é gerúndio. E não adianta trocar o mestre de obras, o problema está na fundação.
Bagunça gera bagunça, num fenômeno que não é restrito à violência ou gentileza. Um relacionamento bagunçado desperta mal-estar na profissão e vice-versa. A culpa não é do chefe. Nem do terapeuta, essa espécie de personal organizer.
Ouvi dizer que quando a vida, no geral, está caótica, a baderna se refletirá no guarda-roupa. Fui correndo ver o meu e, dia seguinte, arregacei as mangas e parti para a arrumação. Minha esperança era enganar o universo, fazendo o caminho inverso. Ou seja, mudar de fora para dentro. Não deu muito certo, mas o armário ficou um brinco. Ninguém reparou.
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