Se você visita NY (ou qualquer outra cidade nos EUA) em Outubro, vai conferir como Halloween está no âmago da cultura americana: pelas ruas e vitrines enfeitadas, o que se vê é uma comemoração alegre que em nada remete à sua origem, cheia de mitos e ocorrências obscuras.
Em declaração feita no ano de 2009, o Vaticano condenou o Halloween como uma celebração perigosa carregada por vários elementos anticristãos. No Brasil, algumas pessoas torcem o nariz para a menção ao evento alegando ser uma manifestação distante da nossa cultura, mas cada vez mais escolas e pequenos grupos aderem à brincadeira e brindam a festa pagã.
Mas você sabe quais são origens de tal festividade?
Desde a Antiguidade, a valorização dos opostos rege o mundo. Um dos mais claros exemplos disso ocorre com relação ao carnaval, que antecede toda a resignação da quaresma. No caso do Halloween, desde muito tempo a festividade acontece um dia antes da “festa de todos os santos” e, por isso, tem seu nome inspirado na expressão “All hallow’s eve”, que significa a “véspera de todos os santos”.
Pelo fato do 1° de novembro estar cercado de um valor sagrado e extremamente positivo, os celtas, antigo povo que habitava as Ilhas Britânicas, acreditavam que o mundo seria ameaçado na véspera do evento pela ação de terríveis demônios e fantasmas. “Halloween” nasce como uma preocupação simbólica onde a festa cercada por figuras estranhas e bizarras teria o objetivo de afastar a influência dos maus espíritos que ameaçariam suas colheitas.
No processo de ocupação das terras europeias, os povos pagãos trouxeram esta influencia cultural em pleno processo de disseminação do cristianismo. Inicialmente, os cristãos celebravam a todos os santos no mês de maio, mas por volta do século IX a Igreja promoveu uma adaptação e o festejo sagrado foi deslocado para 1° de novembro – o que faria os bárbaros convertidos lembrarem-se da festa cristã, que sucederia a antiga e já costumeira celebração do Halloween.
Por ter essa relação intrínseca ao mundo dos espíritos, Halloween foi logo associado à figura das bruxas e feiticeiras. Na Idade Média, elas se tornaram ainda mais recorrentes na medida em que a Inquisição perseguiu e acusou várias pessoas – especialmente as mulheres – de exercerem a bruxaria. Da mesma forma, os mortos também se tornaram comuns nesta celebração por não mais pertencerem a essa mesma realidade etérea.
Entre todos os desalmados, reza a antiga lenda de Stingy Jack que, segundo o mito irlandês, teria convidado o Diabo para beber com ele no dia do Halloween. Após se fartarem em bebida, o astuto Jack convenceu o Diabo a se transformar em uma moeda para que a conta do bar fosse paga, mas ao invés de saldar a dívida, Jack pregou a moeda em um crucifixo.
Para se livrar da prisão, o Diabo aceitou um acordo em que prometia nunca importunar Jack. Ele foi libertado e nunca mais importunou o homem. Quando Jack morreu, não foi aceito nas portas do céu por ter realizado um trato com o demônio. Ao descer para os infernos, também foi rejeitado pelo Diabo por conta do trato que possuíam. Vendo que Jack estava solitário e perdido, o demônio lhe entregou um nabo com carvão que lhe serviu de lanterna.
Ao chegarem à América do Norte, os irlandeses trouxeram a festa do Halloween para as Américas e transformaram a lanterna de Jack em uma abóbora iluminada com feições humanas. Os disfarces e máscaras, tão usadas pelos participantes da festa, seriam uma forma de evitar que fossem reconhecidos pelos espíritos que vagam neste dia.
A celebração do Halloween remete a uma série de antigos valores da cultura bárbaro-cristã que se forma na Europa Medieval. Nessa época, várias outras festas celebravam o processo de movimentação do mundo ao destacar, no jogo de oposições simbólicas, mais do que o valor de um simples embate, a alternância e a transformação enquanto elementos centrais da vida.
Nos países onde a data é celebrada – mais amplamente Estados Unidos e Europa – as fantasias são utilizadas por crianças que batem às portas exigindo guloseimas no lugar de alguma travessura contra o dono da casa.
Mas porque Halloween nos remete às Bruxas?
Segundo a lenda, as Bruxas se reuniam duas vezes por ano durante a mudança das estações: em 30 de abril e 31 de outubro. O imaginário popular atesta que essas mulheres chegavam em vassouras voadoras e participavam de uma confraria nas florestas, nuas, chefiada pelo próprio Diabo, jogando maldições e feitiços, transformando-se e assombrando os mortais comuns.
Diz-se também que para encontrar uma Bruxa era preciso colocar suas roupas do avesso e andar de costas durante a noite de Halloween. Então, à meia-noite, você poderia vê-la…
A crença em Bruxas chegou aos Estados Unidos com os primeiros colonizadores. Lá, elas se espalharam e misturaram-se com as histórias de Bruxas contadas pelos índios norte-americanos e, mais tarde, com as crenças na magia negra trazidas pelos escravos africanos.
O gato preto é constantemente associado a elas devido aos mitos que citam que podem transfigurar-se nesses bichos – que pregam que esses animais são espíritos de pessoas mortas. Muitas superstições, aliás, estão associadas aos gatos pretos – o que os tornam alvos de maldades indescritíveis. Uma das mais conhecidas é a de que se um gato preto cruzar seu caminho, você deve voltar pelo caminho de onde veio, pois se não o fizer, é azar na certa. (Torcemos para que você não acredite nisso!).
Nos dias atuais, Halloween nada mais é do que um pretexto para divertir-se, totalmente livre do peso de sua gênese religiosa e cheia de crendices. Boo!!! ???
Fonte: Rainer Sousa, Mestre em História
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