Eu ia fazer vinte e quatro anos quando meu sobrinho nasceu — filho de um irmão seis anos mais jovem que eu. E quando eu o segurei nos braços a primeira vez (e fui a primeira da família a fazê-lo — depois da minha cunhada e irmão, claro), tive certeza de que ser mãe seria um caminho natural para mim. Três anos depois, o nascimento de minha sobrinha coroava minha convicção.
Mas nessa ocasião eu tinha vinte e sete anos, já tinha sido casada uma vez (fiquei viúva aos 22), e o tempo, aliado à ausência de um amor duradouro, começava a minar essa expectativa.
Toda mulher sabe o que isso significa: há um alarme interno que chamam ‘relógio biológico’ que, por volta dessa idade, começa a ‘bater’ mais apressado. Para as mulheres que sonham em ter filhos, essa precipitação interior começa a exigir rapidez exagerada na execução do feito. Isso pode transformar a vida de qualquer mulher num verdadeiro dilema. Sim, porque nessa idade muitas de nós ainda não se firmou profissionalmente, não é totalmente independente e nem sempre está num relacionamento com ares de ‘felizes para sempre’. E a agonia se instala: conheci mulheres que se casaram sem amor, com o primeiro que apareceu — literalmente — porque “precisavam” ter um filho urgentemente. É uma fase complicada…
Para mim não foi diferente. Mas perto dos trinta anos eu estava às voltas com a doença terminal do meu pai e isso mudou as minhas urgências, alterou minhas prioridades, transformou minha visão de muitas coisas — inclusive da maternidade. E eu passei a olhar para essa “ideia fixa”, peculiar a toda mulher, com mais objetividade, sem romantismo ou ilusão. E aos trinta e três anos, apesar de estar numa relação sólida, decidi: não ia ter filhos.
Que ninguém pense que essa é uma decisão fácil. E fica ainda mais difícil quando você se dá conta de que, depois de enfrentar um embate consigo mesma, terá que encarar o mundo, que vai te olhar com um eterno ar de incompreensão e questionamentos velados. É como se essa escolha fosse uma falta grave, um delito, e você passa a carregar uma incômoda obrigação de se justificar. Eu já superei isso, mas foi desagradável por um tempo.
Acho a maternidade um Dom — que não é para todas, mas nem todas têm coragem de assumir. É muito mais do que um desejo, um sonho, uma realização pessoal. É uma responsabilidade imensa: um filho é para sempre e exige de uma mulher, durante toda a sua vida, dedicação e generosidade constantes, uma infinita capacidade de se doar. Sei que algumas mulheres abraçam com louvor – e amor – a surpresa de uma gravidez inesperada, mas sob a ótica da entrega permanente, penso que a maternidade não deveria, nunca, acontecer por acaso, nem ser uma decisão impensada ou “moeda de barganha”.
As mulheres que são Mães, por milagre natural, escolha consciente ou aceitação, sabem do que estou falando. E merecem admiração e respeito todos os dias de suas vidas — e não apenas na data comercial dedicada a elas.
Assim, sem exaltar demasiadamente o ‘dia das Mães’, eu, uma mortal comum, hoje faço uma reverência e desejo que a Vida proteja sob seu manto essas Deusas Humanas.
Agora e Sempre. Amém. 😉
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