Muita gente se pergunta como é que o Holocausto foi possível – com tantas pessoas promovendo violência desmedida, sem qualquer sentimento de compaixão por outro ser humano.
No filme “O Leitor” (2009), a personagem de Kate Winslet (Hanna Schmitz) é uma trabalhadora comum na Alemanha pós 2ª Guerra Mundial e não tem nenhum traço de crueldade – muito pelo contrário, é uma mulher de meia-idade muito calma e doce. Ao longo do filme, descobrimos que Hanna não sabe ler e tem um passado tenebroso: fazia parte de grupos nazistas durante a Guerra.
Na década de 60, o psicólogo americano Stanley Milgram tornou-se conhecido pelos seus experimentos de obediência inspirados nos eventos do Holocausto – ele queria entender como se dava essa sujeição cega. Em um de seus testes, pessoas comuns eram levadas a dar o que acreditavam serem dolorosos choques elétricos em outras pessoas.
O experimento revelou que mesmo quando escutavam gritos de dor – e ainda que eventualmente desconfortáveis -, a maioria continuava a seguir a ordem de continuar e aumentar a dosagem de choques. Muitos desses voluntários, depois de terminada a pesquisa e receberem o relatório conclusivo, tiveram problemas com sua consciência: eles não conseguiam entender (e aceitar) como sendo pessoas ‘boas’ puderam infringir dor proposital a alguém – e aqui falamos também de mulheres (mães de família).
Stanley Milgram (no filme vivido por Peter Sarsgaard), foi duramente criticado na época pela comunidade de Psicologia, pois trouxe à tona um lado negro da humanidade que tentamos negar. Mas seu experimento prova que o ser humano é capaz de se ‘robotizar’ e seguir ordens sem questionar ou sentir culpa.
Uma das frases mais ouvidas nos julgamentos nazistas e ditadores de vários países é: “Eu estava apenas cumprindo ordens superiores.” Em sua defesa, alegam “não terem feito nada”, pois ao seguir ordens, liberam-se de qualquer culpa e responsabilidade. No filme “O Leitor” (citado acima), Hanna Schmitz também se vale dessa alegação – e, no caso dela, que sequer sabia ler, havia o agravante de assinar documentos atestando barbaridades que efetivamente ela até poderia não ter ciência.
A pergunta que continuamos a fazer ao término do filme é quanto ainda a humanidade é capaz de promover atrocidades brutais, durezas e maldades em relação ao outro mediante determinações. Já sabemos que num ‘efeito manada’ – aquele em que várias pessoas promovem violência incitadas por um movimento coletivo – isso é bastante pertinente – estão aí as manifestações de ruas recentes para nos provar.
O mais inquietante disso, entretanto, é não ter certeza de que eu ou você estamos imunes a um experimento – ou realidade – dessa natureza. Essa triste indefinição em não saber se diante de uma ordem cruel nossa selvageria poderá falar mais alto que nossa benevolência e sensibilidade, em mim gera um perplexo desconforto.
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