Último filme feito por Philip Seymour Hoffman, “O Homem Mais Procurado” conta a história de um imigrante de origem chechena e russa que, depois de ser brutalmente torturado, faz uma viagem à comunidade islâmica de Hamburgo, tentando resgatar uma milionária herança que seu pai, um terrorista russo, teria lhe deixado.
Numa Alemanha marcada pelo atentado de 1972, que inaugurou a era do terrorismo em grandes eventos e arrastou a paranoia da segurança para o esporte e o mundo, a chegada deste homem desperta a curiosidade das polícias secretas alemã e americana, que passam a acompanhar seus passos. Mas não em cooperação.
O terrorismo aqui mostra sua face na retaguarda: homens bilionários, de diversas religiões e de vários lugares do mundo, que fornecem recursos para grupos extremistas, financiando os atos violentos. Suas armas são documentos, contas em banco, e a ordem para encontrar o cerne da movimentação é “siga o dinheiro”. Aliás, essa parece ser a máxima para toda a desordem do mundo.
Um elenco de peso é prova do prestígio que os escritos do romancista Le Carré e a direção de Anton Corbijn inspiram entre os grandes atores. Ao lado de Hoffman, brilham Rachel McAdams, Willem Dafoe, Robin Wright, Daniel Bruhl, Nina Hoss e Grigoriy Dobrygin nos papéis de destaque, construindo personagens bem intensos – em especial Hoffman, que mais uma vez se supera.
O filme critica abertamente a maneira como o Ocidente combate o terrorismo e isso é retratado bem explicitamente nos embates entre o integrante da inteligência alemã, Gunther (Hoffman), e a representante americana (Robin Wright), em que a política externa desumana e carrasca dos norte-americanos é francamente atacada.
A história não reflete os ataques em termos morais ou ideológicos; o foco são as operações financeiras que sustentam o terrorismo e como as Agências de Segurança tentam interceptar e prever possíveis atos terroristas por essa via. É um discurso bem complexo, difícil, duro e censurador, e enquanto a investigação avança, a pergunta quase impossível de responder sobre o imigrante é: seria ele apenas uma vítima ou um extremista parte das células na Alemanha? O telespectador vai decidir sobre isso – e também se os meios justificam os fins, e se os fins efetivamente sustentam os meios.
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