LITERATURA RESENHAS

DOIS IRMÃOS, Milton Hatoum

“Dois Irmãos” – Milton Hatoum 
(Companhia das Letras)

 

Você acha que é possível odiar um irmão ou qualquer outro membro direto de sua família?

O romance publicado em 2000, depois de onze anos de ‘silêncio’ do escritor Milton Hatoun, relata a tumultuada relação entre dois irmãos gêmeos, Yaqub e Omar, em uma família de origem libanesa que vive na Manaus pós período de grande efervescência econômica e cultural do início do século XX, do porto à margem do Rio Negro – a cidade e os arredores do rio, as transformações, as ruínas e a passagem do tempo.

A narrativa se discorre pelo olhar de Nael, o filho da empregada (Domingas), que busca entre os homens da casa a identidade de seu pai. Os dramas que presenciou e as histórias que ouviu – sempre calado -, e guardou na memória, são sua única ponte para reconstruir seu passado em busca de respostas.

Cheio de avanços e recuos no tempo, sem cronologia linear, a trama de paixão, incesto, amor, ódio e vingança vai se revelando aos poucos ao leitor. E não se revela totalmente quando o livro termina: muitas indagações não se concluem e cada um vai desenhar um desfecho diferente.

Mas o que fica claro, é como os vínculos familiares são tênues, os sentimentos oscilam, e como os laços de sangue nem sempre são suficientes para manter a união. Pelo contrário: as disputas – pelo amor dos pais, de outros irmãos e demais pessoas ligadas à família -, podem ser o grande detonador de elos fraternais.

Outra coisa que surpreende é perceber como uma personalidade implacável se molda na serenidade, o ressentimento de uma vida despejado de forma calculada, sem pressa, nem alarde.

Dois Irmãos é um livro que nos faz repensar todo o conceito de família e que nos coloca de frente a embates que muitas vezes vivenciamos sem perceber.

Vencedor do Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance, recentemente o livro ganhou uma versão em HQ (história em quadrinhos) pelas mãos dos premiados autores Gabriel Bá e Fábio Moon, na qual Milton Hatoum foi essencial para que os autores pudessem desenhar a cidade como era no século 20, época em que se passa a narrativa.

Vale ler – as duas versões.

Débora Böttcher
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Débora Böttcher

Débora Böttcher

Formada em Letras, com especialização em Literatura Infantil e Produção de Textos. Participou do livro de coletâneas "Acaba Não, Mundo", do site "Crônica do Dia", onde escreveu por 10 anos. Publicou artigos em vários jornais. Trabalha com arte visual/mídias. Administra esse portal - que é uma junção dos sites Babel Cultural, Dieta com Sabor, Hiperbreves, Papo de Letras e Falas Contadas.