No horário marcado ela estava lá. Sentou-se no banco de madeira postado em frente à imensa porta no amplo corredor. Ele chegou em seguida e sentou-se no banco ao lado. Cruzaram o olhar rapidamente, num cumprimento mudo. Ela pensou em todos os anos e sonhos que viveram juntos. Ele pensava no que fazer com o futuro. Ela recordava os dias de paixão. Ele lembrou da primeira noite de sexo. Ela reviveu as madrugadas insones. Ele pensou em todas as brigas sem sentido. Ela cogitou reconsiderar. Ele visualizou a liberdade. No vai e vem dos pensamentos que desenhavam duas vidas na memória do tempo, o romance que pretendia ser de mão dupla se perdia na conversão errada, nas distâncias indiferentes, nas ultrapassagens arriscadas, nas perigosas contramãos. Quando abriram a porta, susto e tristeza a tomaram: seu corpo estremeceu. Diante dos presentes, depois de lidas as condições, ela conferiu as horas no antigo relógio de parede e assinou o documento: o casamento estava desfeito.
| Débora Böttcher |
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